Quirguízia: as pedras bordadas de Saimaluu-Tash

Lugares Improváveis

Os investigadores internacionais chegam de helicóptero a este remoto jardim de petroglifos com mais de 4.000 anos, algures nas montanhas da Quirguízia, na Ásia Central. Os comuns mortais conseguem fazer o percurso de jipe e a pé, por um estreito vale onde uma tardia placa de gelo resiste ao verão. A beleza natural do local, a abundância e a nitidez das gravuras rupestres recompensam todo o esforço.

Saimaluu-Tash, o  jardim de gravuras rupestres na Quirguízia

As gravuras rupestres mais antigas da Quirguízia (ou Quirguistão) estão datadas da Idade do Bronze, e o nome Saimaluu-Tash significa pedras bordadas ou impressas. Por brincadeira, há quem lhe chame o “Stonehenge da Ásia Central”, mas o local não podia estar mais longe de ser uma atração turística: só é acessível com algum esforço – ou de helicóptero – e apenas durante uma pequena abertura na rigorosa meteorologia das montanhas quirguizes, que vai dos últimos dias de julho aos primeiros de setembro.

Num país onde habitantes gostam de ter uma tenda sempre por perto (nem que seja no quintal), mesmo os locais mais remotos ficam apenas a horas de caminho de um acampamento de “casas cinzentas” – tradução direta de bozu, o nome das típicas iurtas de feltro grosseiro. Por mais distante que seja o lugar, nada é longe demais para os quirguizes, um povo de nómadas cavaleiros, habituados a percorrer longas distâncias com ovelhas, cavalos e vacas, em busca dos melhores pastos.

Percorremos de jipe o estradão de terra que vai de Kazarman ao início do trilho que sobe até Saimaluu-Tash, onde uma família acampa junto a uma série de colmeias e cobra os bilhetes aos visitantes. O trilho desce até ao rio, que é atravessado sobre um tronco de árvore, e uma hora de caminhada permite-nos alcançar uma placa de gelo relativamente íngreme, entalada num vale profundo. O resto do caminho consiste na subida desta placa de gelo, que na descida nos vai proporcionar momentos de arriscada patinagem artística, para evitar cair no rio que lhe corre por baixo.

Lá no alto vem o desejo de descanso, e o lugar não podia ser mais propício: estamos numa espécie de prado entre montanhas, coberto de erva alta, flores brancas, amarelas ou roxas, e grandes afloramentos de pedras negras como carvão. O sol está quente, a água fresca, o silêncio repousante. Mas aqueles montes de pedras de basalto atraem a nossa atenção. Aproximamo-nos e encontramos o que esperávamos: estão cobertas de gravuras. Distingue-se facilmente vários tipos de animais (cavalos, cabras, veados e lobos), mas há sobretudo muitas cenas do quotidiano, com criaturinhas de arco em punho, pastores com rebanhos acompanhados pelo símbolo do sol, e outros sinais indecifráveis do começo da história humana.

A arte rupestre de Saimaluu-Tash

Saimaluu-Tash é a maior “exposição” de arte rupestre ao ar livre da Quirguízia. São duas, as áreas de gravuras distintas na mesma montanha, a primeira das quais ultrapassa os três quilómetros de comprimento e mais do que satisfaz os neófitos como eu, que apenas alcançam a beleza e o mistério.

Estão contabilizados cerca de onze mil petroglifos, e a área está protegida por um parque desde 2001, que engloba também a proteção da biodiversidade. Mesmo sem as fabulosas gravuras, o local impressiona pela sua beleza inóspita; não admira que fosse considerado solo sagrado, e as imagens estejam associadas a rituais místicos e religiosos dos nossos antepassados, que continuou durante milénios.

As datações mais comuns situam-se entre 2.000 a.C. e 500 d. C., acompanhando a Idade do Bronze e a Idade do Ferro, mas também a Idade Média, os povoamentos por Sitas e por povos de origem turca. Todos acreditavam nos poderes curativos do local, e aqui deixavam a sua marca durante os rituais. Diz-se também que o pequeno lago junto a uma das galerias de gravuras é frequentado por xamanes. A 3.200 metros de altitude e no meio de uma natureza impressionante, parece uma ótima escolha para os que querem ficar mais perto dos espíritos – e as pedras bordadas mostram que são muitos.


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