Colorado, Terra do Fogo

Lugares Improváveis

No sul de França, há um lugar onde índios, cowboys e bisontes não ficavam nada mal na paisagem: é o Colorado Provençal, onde o calor reina quase todo o ano e o ocre põe a terra da cor do fogo.

França: no Colorado Provençal

 O Colorado Provençal fica no sul de França, num cantinho da Provença. O nome tem uma afinidade óbvia com o Colorado dos EUA, e vem da cor de fogo de um solo rico em ocre, um pigmento natural que já foi indispensável – chegou a ser conhecido por Ouro da Provença – mas que se encontra agora quase caído no esquecimento.

Uma das cidades mais importantes da zona é Apt, ou Ate en Provenço, em língua provençal. Há séculos que Apt conserva o glorioso título de “capital da fruta cristalizada”, mas para lá para lá da fruta, do vinho, do azeite e do turismo, o ocre também já foi uma importante indústria na região; agora está reduzido apenas ao seu interesse artístico, com um Conservatório dos Ocres e Pigmentos a oferecer visitas guiadas ao antigo centro de transformação, cursos de verão e workshops sobre o seu uso.

Ali próxima, a aldeia de Roussillon possui ainda uma área de exploração, com carreiros assinalados para as visitas turísticas, quilómetros de cores intensas e formas inesperadas. Colinas e falésias, pinhais de chão cor de fogo, o verde-escuro das árvores a recortar-se nos tons dourados da terra. A própria aldeia tomou a cor do ocre, com casas afogueadas por este pigmento natural, em tons que vão do castanho ao amarelo-torrado. Os artistas não deixaram de colaborar com este louvor a um material em desuso, e na pequena vila não faltam galerias de arte com exposições permanentes e coloridas, nomeadamente na área da pintura.

O Colorado fica nas proximidades de Rustrel, a poucos quilómetros de Roussillon, onde há uma outra antiga mina de ocre com uma grande área de trilhos assinalados. O nome Colorado Provençal predispõe a imaginação para o encontro com índios e cowboys, mas não para as dramáticas estruturas naturais que encontramos: torres e cones que saem do chão em caprichos erosivos, alternam com vales, ravinas finas como lâminas, circos, colinas e cogumelos, onde a vegetação cresce num solo amarelo-torrado e vermelho escuro. Qualquer um dos percursos nos faz pensar que estamos noutro planeta, enquanto o pó alaranjado nos vai cobrindo os pés, e as flores brancas dos cistos enchem o ar de um perfume doce e intenso..

Antigas instalações de exploração do ocre, no Conservatório dos Ocres e Pigmentos

O que é o ocre?

Ao contrário das rochas da zona, depósitos sedimentares acumulados, o ocre resulta de uma alteração de uma rocha marinha que ocorre localmente sendo, por isso, raro. Destronado por produtos sintéticos, este pigmento natural já foi indispensável na pintura e na indústria têxtil. Basicamente, o processo de exploração consiste em lavar a terra para separar a areia, mais pesada, do ocre, que fica na água. Esta “água de ocre” é colocada em tanques a céu aberto. Após uma decantação de 24 horas, retira-se a água limpa e junta-se mais “água de ocre” – e assim sucessivamente, até o depósito de ocre no fundo atingir os quarenta centímetros. Só aí se abandona o processo e deixa-se o sol actuar, secando completamente o depósito. No fim de maio corta-se o ocre em tijolos. Uma parte é cozida no forno, para obter nuances mais escuras e avermelhadas, diferentes do amarelo dourado que lhe é natural. E está pronto a usar.

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