Lahemaa, Terra de Baías

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Lahemaa foi o primeiro Parque Nacional da Estónia, e é o maior de todos. A Terra de Baías (tradução do nome Lahemaa) é feita de costa, lagos e bosques profundos, mas também de misteriosos pauis…

Parque Nacional Lahemaa, a dois passos de Tallinn

Acessível a partir de Viitna, a apenas cerca de 80 km da capital da Estónia, Tallinn, o Parque Nacional Lahemaa é esparsamente habitado, e as povoações parecem ter parado no tempo: em Vosu e Kasmu as casas continuam a ser feitas de madeira, cada uma com a sua sauna a lenha, que funciona com a mesma frequência com que no sul da Europa se usa o duche. A recolha de cogumelos, no outono, e de bagas silvestres, no verão, são atividades populares entre os habitantes, e no inverno o branco da neve e do gelo uniformiza a paisagem e cobre o mar, tornando difíceis acessos e deslocações; no entanto, a zona já é povoada desde há cerca de 2500 anos.

Na costa, há aldeias que recriam na perfeição o ambiente arcaico dos portos antigo; Altja, por exemplo, com as suas pequenas casas de madeira à borda de água, algumas com os tradicionais telhados de caniço. Os poços com portas, que protegem a água dos rigores do inverno, e as cercas de madeira colorida completam um cenário perfeito, em harmonia com a natureza. As casas senhoriais, apalaçadas e bem preservadas, são agora museus, como a de Palmse, onde fica a Casa do Parque.

Mas a principal marca de Lahemaa é o seu solo. Florestas, lagos, pauis, povoações e o próprio mar instalaram-se ao longo da meseta estónia, sobre uma bacia glaciária antiquíssima que não deixa de se mostrar, aqui e ali, sob a forma de relevos: rochas redondas e brancas de vários tamanhos, de esquinas amaciadas por calotas de gelo que desapareceram há milhares de anos, surgem espalhadas pela costa como um polvilhado gigante.

Na baía de Kasmu o nível do mar é muito baixo, e permite ver o manto de pedras que se estende pelo Golfo da Finlândia dentro. Aparentemente deslocados, seixos e rochas calcárias servem de ninho às andorinhas-do-mar, que os defendem em voos rasantes sobre as cabeças dos intrusos. Kuradisaar, a Ilha do Diabo, está ligada a terra por um trilho de pedras que permite o acesso ao seu pequeno bosque e, pelo caminho, grandes cisnes brancos vigiam os ovos expostos ao sol em grandes ninhos de algas.

Para além dos chamados “campos de pedra”, que surgem em qualquer lado (junto às casas, nos quintais ou no mar), o chão dos bosques também está coberto de bossas redondas, verdes ou cinzentas, dependendo do musgo ou líquen que as cobre. Aqui e ali, aparecem “penedos errantes”,  enormes pedregulhos em locais perfeitamente descabidos; os maiores até têm nomes, como o Majakivi (a “pedra-casa”), com 580 metros cúbicos, num bosque perto de Kasmu.

As florestas e charnecas ocupam a maior parte da área terrestre e são o habitat da fauna local, que inclui linces, ursos, alces, veados, lobos, javalis e martas, e mais de duzentas de aves, como o cisne, o grou ou a cegonha negra. A nível de flora, conta-se quase oitocentos e quarenta tipos de plantas, entre as quais o abeto, o pinheiro e o zimbro, para além de variadíssimas formas de líquenes e arbustos.

Lagos habitados por trutas, salmões e castores, e pauis – sobretudo turfeiras como a grande Viru Raba – são outras das belezas naturais do Parque. As águas azuis do lago Kasmu quase tocam o mar: do alto de uma duna, no meio do bosque, pode ver-se a praia de uma banda e o lago da outra. Quanto ao Viru, quem vem do sul da Europa não pode evitar uma sensação de estranheza, ao percorrer uma área com as cores douradas da erva seca, onde sair do trilho significa enterrar-se em água e turfa – em alguns sítios, movediça e perigosa.

Paul de Viru Raba – a terra que nasceu da água

Um sol tímido faz brilhar a água azul-petróleo dos charcos. Alguns pinheiros, anémicos e esparsos, fazem sombra sobre um chão de ervas torcidas e aparentemente queimadas. Não há um som ou uma brisa que movimente o ar, e a humidade que vem da terra tem um cheiro antigo, a mofo. Algumas ilhotas redondas surgem no meio da água, com círculos concêntricos de cores diferentes, a marcar a transformação de solo em terra firme. O lugar é tão diferente do resto do planeta, que a imaginação parte em todas as direções, recriando histórias de fadas e duendes, para explicar os cheiros, as cores e a aparente ausência de vida num lugar onde tudo parece ter parado – até o tempo.

No entanto, a explicação é conhecida: o paul (raba) de Viru é uma extensa área turfeira, com cerca de 235 ha, onde é possível apreciar o nascimento de terra firme a partir da água – um fenómeno relativamente comum nas regiões frias e húmidas do norte. Neste caso, após o período glaciário, toda esta zona seria um imenso lago, que começou a ficar coberto de vegetação há cerca de 5000 anos.

O processo ainda decorre e está à vista: algumas zonas de água estão a ser cobertas por plantas flutuantes; nas margens, acumulam-se resíduos em decomposição, provenientes de folhas, caules e raízes, num tapete que se vai tornando cada vez mais espesso – no Viru, a espessura média da turfa é de três metros, mas em certas zonas atinge os seis. A planta musgosa, de um verde vivo, que cresce nas margens dos charcos, é o esfagno; segue-se arbustos como a urze e, por fim, algumas árvores que conseguem sobreviver à pobreza do solo em minerais e à acidez da água. Visto de cima, o paul é um grupo de poços escuros, delineados por zonas sucessivas de cores diferente.

Para adensar ainda mais a aura de mistério de uma paisagem, já de si, enigmática, são conhecidos casos de animais e pessoas que se enterraram em zonas mais profundas, para serem encontrados intactos séculos mais tarde – “magia” hoje explicada pela escassez de oxigénio e minerais, aliada ao elevado grau de acidez da água, que faz com que a decomposição se processe de modo extremamente lento.


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