Floresta Laurissilva, uma relíquia viva

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A floresta Laurissilva, que já ocupou vastas extensões da Europa, está agora confinada a algumas ilhas atlânticas, sobretudo à Madeira e La Gomera. Um passeio no Parque Nacional de Garajonay ou por uma das levadas da Madeira faz-nos mergulhar num mundo verde e antigo que não devíamos deixar desaparecer.

Cascata na Levada do Rei

 A Laurissilva, da Madeira às Canárias

Tecnicamente, a floresta Laurissilva existe na chamada Macaronésia, que compreende os arquipélagos dos Açores, Madeira, Cabo Verde e Canárias (Espanha), e também em raros enclaves da costa da Mauritânia, fruto de um clima ameno influenciado pelo Oceano Atlântico.

Nos Açores, as manchas mais significativas podem ser vistas nas ilhas do Pico e na Terceira, enquanto no arquipélago da Madeira encontra-se apenas na ilha maior do arquipélago. Nas Canárias, os núcleos mais significativos encontram-se na ilha de La Gomera, protegidos pelo Parque Nacional de Garajonay, em La Palma e também em Tenerife.

Em Cabo Verde e na Mauritânia a ocorrência é esparsa, constituída por pequenas e raras manchas situadas em locais que escapam ao caráter árido do clima, quer pelo relevo montanhoso, quer pela influência da humidade do mar.

Para conhecer as extensões mais respeitáveis desta verdadeira relíquia viva, o melhor é dirigir-se às ilhas da Madeira ou de La Gomera, onde é possível percorrer trilhos de descoberta mais ou menos extensos, que nos permitem penetrar neste mundo vegetal tão antigo.

 O que é a Laurissilva?

O nome é composto pelas palavras latinas laurus e silva (respetivamente, loureiro e floresta), e refere-se à predominância de árvores da família das lauráceas (como o loureiro) que caracteriza esta floresta subtropical. Há cerca de 20 milhões de anos, a Laurissilva cobria a bacia do Mediterrâneo e o sul da Europa, fazendo com que este ecossistema seja considerado um autêntico “fóssil vivo”. A sua longevidade e resistência (no caso da Madeira, resistiu a glaciações e a cinco séculos de expansão humana) são um testemunho vivo da evolução do planeta. A UNESCO reconheceu a sua importância em 1986, no caso do Parque de Garajonay, em La Gomera, e em 1999 na Madeira.

As espécies mais comuns de árvores são a Erica arborea (urze), a Myrica faya (faia), a Ilex canariensis (azevinho), o Laurus azorica (loureiro), o Persea indica (vinhático) e a Picconia excelsa (branqueiro). Para além destas também se encontra o til, o barbusano, o medronheiro e o sanguinho, assim como muitos tipos de musgos e líquenes que nascem nas árvores, e uma espessa camada de fetos que cobre o solo graças ao elevado nível de humidade.

Líquene na Levada do Caldeirão Verde

Madeira

A Madeira tem a maior mancha de Laurissilva do mundo. Ocupa cerca de 20% do território insular (uma área que corresponde a cerca de 15.000 hectares), e é responsável pelo nome da ilha, que antes era completamente coberta por floresta. Hoje a Laurissilva é também responsável pela grande procura turística da ilha, que vive sobretudo da sua beleza natural.

Para além de um belo relevo montanhoso e de uma costa geralmente escarpada, enquadrada por um mar azul, o nome de “ilha jardim” assenta bem à região, muito por causa dos seus alcantilados continuarem cobertos por esta floresta indígena, considerada Património Natural da Humanidade pela UNESCO. E a juntar às vistas, a Madeira ainda proporciona uma acessibilidade à Laurissilva pouco comum a todos os que gostam de caminhar, graças aos trilhos que acompanham os canais que trazem a água da serra para as populações – as famosas levadas.

 A floresta concentra-se principalmente na costa norte, entre os 300 e os 1400 metros de altitude, e na costa sul, entre os 700 e os 1600 metros. A Laurissilva necessita de elevados níveis de humidade e temperaturas amenas, e a floresta fica normalmente coberta por um “mar de nuvens” devido ao nevoeiro que se acumula nestas zonas, onde a temperatura ronda os 13ºC e os 16ºC.

De caminhos curtos, como o da Levada do Risco e das 25 Fontes, aos mais longos, como o da Levada Real ou do Caldeirão Verde, os trilhos penetram no arvoredo, atravessando riachos e permitindo avistar vários dos endemismos da Madeira, a nível da fauna e da flora. Em relação à flora, o auxílio de um bom guia como os da Madeira Adventure Kingdom é essencial para a sua identificação; quanto à fauna, as mais comuns e fáceis de avistar serão aves como o pombo trocaz e as pequenas lagartixas Lacerta dugesii, cinzentas e amigáveis – no trilho entre o Pico do Areeiro e o Pico Ruivo vêm buscar pedaços de pão à nossa mão!

Prótea em La Gomera

La Gomera

O Parque Nacional de Garajonay foi criado para proteger a floresta fóssil que ainda cobre cerca de 10% da superfície desta ilha do arquipélago das Canárias. Em Las Rosas, fora dos limites do Parque, fica o Centro de Visitantes Juego de Bola, que oferece exposições permanentes sobre a natureza e a cultura específicas da ilha, com destaque para um jardim representativo da flora autóctone. Daqui saem também visitas guiadas pelo Parque, que tem alguns trilhos assinalados.

Garajonay tem uma das massas de Laurissilva mais bem conservadas do mundo, apenas comparável à da Madeira, que alberga populações importantes de espécies de aves endémicas e subendémicas, alguns em vias de extinção.

Em 2009, o Parque perdeu cerca de 900 hectares de floresta num incêndio que se prolongou durante dias; os especialistas estimam que seja necessário cerca de um século para que cerca de 100 hectares de zonas mais antigas recuperem completamente.

Entretanto, é perfeitamente possível ter uma noção da magnífica floresta que sobrevive dos nevoeiros e humidades que sobem do mar e ficam presos nos picos rochosos que constituem o coração da ilha; uma visita ao “jardim” que rodeia o centro de visitantes mostra alguns belos exemplares de próteas e o emaranhado da floresta, envoltos em nevoeiro. No caso de La Gomera que, ao contrário da Madeira, é uma ilha predominantemente seca, este “mar de nuvens” que se forma entre os 600 e os 1800 metros é importante para a vegetação, limitando a exposição solar e mantndo uma elevada humidade. A espessura das nuvens chega a atingir 500 metros, e as gotas de humidade acumulam-se nas árvores, acabando por escorrer para o solo e substituir a parca chuva, alimentando nascentes e linhas de água nos vales mais baixos.

O meu agradecimento aos excelentes guias da Madeira Adventure Kingdom, e também à associação Madeira Rural, pelo excelente apoio dado aos percursos na Laurissilva na ilha da Madeira.


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Jose Assis Janeiro 31, 2016 às 18:49

Que linda e bem elaborada página!. Agradeço muito aos idealizadores desta maravilha que nos mostra a natureza!

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Comedores de Paisagem Fevereiro 4, 2016 às 9:54

José, muito obrigada. Fico contente que tenha gostado!

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Marco Vieira Julho 14, 2020 às 22:40

Fantáastico artigo sobre a nossa Laurissilva!! Forte abraço desde a ilha da Madeira!

Marco

https://madeiraislandvacations.com/

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Comedores de Paisagem Novembro 5, 2020 às 12:17

Obrigada, Marco! Adoro a Madeira e espero voltar em breve.

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