Um mundo à parte no Sri Lanka

Destinos

No Sri Lanka, chama-se hill country à zona do interior sul do país. Mas basta fazer a estrada entre Colombo e Kandy para perceber que há muito mais que colinas verdejantes no coração da ilha.

No hill country do Sri Lanka

A zona central do Sri Lanka, entre Kandy e Ella, é conhecida como hill country (terra de montes). É um mundo à parte, verde e brumoso, onde a natureza selvagem se mistura com plantações de chá – o famoso chá do Ceilão – cuidadosamente desenhadas por mão humana. Muito mais do que montes ou colinas, a palavra que nos vem à cabeça é “jardim”: um interior ajardinado e selvagem, onde mantos de nuvens brancas envolvem em mistério uma paisagem onde é visível o esforço permanente para domar a floresta tropical e substituí-la por jardins de chá, que grupos de mulheres mantêm bem aparados.

Como em Ella, por exemplo, povoação sem centro, cujas casas estão espalhadas por montes escarpados e  jardins de chá. Fica a 1040 metros de altitude e dos montes mais altos caem dezenas de cascatas. Por entre arbustos e floresta, chegamos a belos miradouros de onde por vezes até se consegue avistar o mar, como o Little Adam’s Peak ou Ella’s Rock. É mesmo assim, pelos seus nomes em inglês, que estes locais são conhecidos; os jardins de chá são obra dos colonos britânicos, que aqui também deixaram um certo gosto por chalés de madeira, alguns deles agora transformados em hotéis ou guest houses (pode encontrar hotéis baratos no site da Rumbo.pt)

Outra das regiões mais espantosas é a que fica entre Nano Oya e Hatton. A viagem de comboio é um desfile de aldeias minúsculas, fábricas de chá rodeadas de arbustos bem aparados, núcleos eriçados de floresta cerrada interrompida apenas por quedas de água, que descem em jorro para vales profundos. A palavra “jardim” faz, de novo, todo o sentido.

Depois da capital, Colombo, Kandy é a segunda cidade do país – o que já diz muito sobre o Sri Lanka. Pequena, embrulhada numa vegetação teimosa e selvática que insiste em não ceder espaço, estende-se colinas acima em redor de um lago, cujas margens são habitadas por uma fauna que inclui varanos, macacos, guarda-rios e morcegos. Independente mesmo durante a época em que portugueses e holandeses por aqui andaram, só em 1815 é que cedeu, finalmente, aos britânicos. Ainda hoje é um símbolo cultural, e guarda o que há de mais cingalês na música, dança, arquitetura e também na religião, com o magnífico Templo do Dente. Mais sagrado do que este templo que guarda (dizem) um dente de Buda como relíquia, só a peregrinação ao Adam’s Peak, outro dos tesouros guardados no coração da ilha.

Mas a natureza, só por si, é um verdadeiro deslumbramento, mesmo quando chove – o que acontece com a frequência esperada num país tropical. As chuvadas são momentos gloriosos: num repente, desaparecem os esquilos e os macacos; os pássaros calam-se e as folhas não aguentam o peso da água, desabando sobre nós em bátegas. Os telhados de zinco amplificam o incomparável som da chuva, e tudo o resto desaparece. Neste universo aquático, há flores desoladas que pendem sob o peso da água: hibiscos rosados, cascatas de copos lilases, antúrios de pontas arrebitadas…

Em Portugal, dez minutos desta chuva tropical punha o país em alerta arco-íris; aqui, calça-se os chinelos de dedo, abre-se um guarda-chuva ou enfia-se um plástico na cabeça e a vida continua. A temperatura é sempre agradável, por isso, tudo se resume a não perder os chinelos na lama quando se atravessa a rua. Um mundo à parte…

 

 

 


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Rita Marques Março 22, 2015 às 22:11

Está na minha lista de destinos para 2015! Obrigada pela inspiração 🙂

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Comedores de Paisagem Março 31, 2015 às 18:55

Então é Sri Lanka e Arménia para este ano? Que maravilha! 🙂

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Rita Marques Abril 1, 2015 às 17:19

Ainda estou a tentar escolher… recomendação? 😉

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Comedores de Paisagem Abril 1, 2015 às 18:38

Bem, Rita, eu sou suspeita por ter uma (dúzia) de costelas viradas para a Ásia mais extrema! 🙂 O Sri Lanka, claro…
Parto agora com um grupinho no domingo e antecipo tudo de bom! 🙂

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Rita Marques Abril 4, 2015 às 16:54

Ahah eu partilho do mesmo sentimento dado que vivi na Malásia uns meses.

Partes como viajante ou és guia?

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Comedores de Paisagem Abril 8, 2015 às 14:49

Rita, sou viajante há muitos anos e o ano passado fui convidada pelo Fotoadrenalina para acompanhar pequenos grupos de pessoas que gostam de fotografia em alguns dos países que conheço. O que escrevo para o meu site é, geralmente, das minhas viagens pessoais.

Isabel Sá Novembro 3, 2015 às 15:56

Boa tarde,
Parto em Fevereiro para o Sri Lanka durante 22 dias, mas começo já a viajar no mapa tentando eleger uma possível rota. Assim gostava se possível que me indicasses alguns pontos para além dos que constam neste teu artigo que na tua opinião não se deve perder por terras do Ceilão. Estou a pensar ir a Kalpitiya, Jaffna, Trincomalee, sair dentro do possível das rotas muito turísticas. Sinceramente quando marquei os dias de viagem achei que eram suficientes dado que o país é pequeno, no entanto agora que olho para o mapa e começo a apontar os sítios onde quero ir parece que não vai dar para ir a metade, mas é o que tenho e vou ter de gerir por forma a aproveitar o máximo. Obrigada.

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Comedores de Paisagem Novembro 17, 2015 às 17:43

Maria Isabel, vou responder-lhe pessoalmente. 🙂

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Túlio Dezembro 13, 2015 às 10:51

Olá! Adorei as descrições, chega a ser poético! 🙂 Irei passar também 22 dias em Sri Lanka e como a Maria Isabel, gostaria muito de receber umas dicas de como fazer uma boa rota. Quem sabe a resposta à Maria Isabel também seja proveitosa pra mim? 🙂 Muito obrigado e um grande abraço!

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Comedores de Paisagem Janeiro 23, 2016 às 17:46

Túlio e Maria Isabel, aqui vai uma resposta tardia sobre o vosso pedido de sugestões: antes de mais, devem saber que o Sri Lanka oferece vários tipos de locais, de montanha a selva, a praias paradisíacas. Pessoalmente, as praias não são “a minha praia”, mas Arugam Bay e a muito turística Unawatuna não deixam de conquistar qualquer um. Os meus locais favoritos estão no interior: subir os degraus do Adam’s Peak, subir ao Ella’s Rock e ao Little Adam’s Peak, ambos em Ella, e mergulhar na selva do parque de Yala são, para mim, os pontos altos de uma visita ao Sri Lanka. As plantações de chá e a paisagem de colinas verdes do interior, entre Ella e Nuwara Ellya também são lindíssimas, e percorrer a pé as pequenas estradas entre os arrozais, que ligam os templos e mosteiros de Embekke, Lankatilake e Gadaladeniya, é uma delícia. A nível de locais históricos e religiosos, não falhar a cidade de Kandy, o rochedo de Sigyria, Mihintale e Dambulla. Não sei quanto tempo têm, mas para conseguirem fazer com tempo tudo o que indiquei, um mês chega. Abraço e boas viagens!

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