Turquia: o intrigante Nemrut Dag

Lugares Improváveis

Se o subirmos numa manhã de nevoeiro e chuva miudinha, o monte Nemrut Dag é o protótipo do lugar misterioso. O silêncio interrompido pelo resvalar da gravilha e as nuvens de tempestade fazem crescer uma espécie de tensão no ar – e porque estão ali as grandes cabeças de pedra? A Turquia tem muitos segredos…

Subida ao monte Nemrut

O monte Nemrut estava invisível quando iniciámos a subida, coberto por nuvens que ora lançavam salpicos ora deixavam passar raios de luz. Combinando o dia de tempo frio e instável, e a hora da partida – a meio da manhã, evitando o nascer e o pôr-do-sol, mais procurados pelos turistas – tivemos o local só para nós.

O rei Antíoco de Comagena (cerca de 86 – 38 a.C.) mandou erigir este santuário religioso para ser mais tarde o seu túmulo, numa tentativa de emparelhar com os deuses do panteão grego e persa; até hoje ainda não foi possível confirmar a existência de um corpo no interior do monte, mas o pequeno estado helenístico de Comagena, situado agora na parte leste da Turquia, teria passado despercebido na história se não fosse este desejo expresso em pedra.

Antíoco escolheu o monte (Dag) Nemrut, que com 2.150 metros de altitude é o mais alto das redondezas, e mandou levantar uma fila de estátuas sentadas dos deuses e dele próprio, numa familiaridade que considerava razoável. Protegido pela UNESCO desde 1987, o sítio acabou por estar esquecido até ao século XIX.

Para além das estátuas decapitadas pelos séculos, há mais de uma dezena de cabeças de águias, leões, deuses e do próprio Antíoco, com um a dois metros de altura, espalhadas pelo chão no sopé da pirâmide de gravilha que forma o mausoléu. Têm barba, cabelos, barretes persas e penteados da época, e estão estaladas pelo tempo, que lhes deu uma textura de teia de aranha e uma expressão de surpresa nos olhos redondos. Algumas lajes negras conservam relevos: leões, figuras com tambores, o rei que aperta a mão a Hércules – diz-se mesmo que esta é a primeira representação em estátua de um aperto de mão.

A chuva caiu, depois voltou o nevoeiro. O silêncio surpreendido das figuras de pedra e as brincadeiras da luz nas montanhas douradas que nos cercam prendem-nos por ali, apesar do frio. Brinco com a ideia de um gigante a polvilhar o lugar com cabeças, que foram rebolando até às plataformas no sopé do monte…

Da capital de Comagena ainda sobrou menos: poucos quilómetros adiante podemos visitar o local de Arsameia, onde resta mais um aperto de mão petrificado entre Mitrídates, pai de Antíoco, e Hércules, assim como uma gigantesca pedra coberta de inscrições em grego que explica a fundação da cidade, um túnel que dá acesso a uma cisterna, e pouco mais. São as cabeças solenes e os torsos inúteis do monte Nemrut que ficam no nosso imaginário como um dos mais intrigantes monumentos da Turquia, um dos raros vestígios de um reino e de um rei que quis ser imortal.

 


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