Durante uma caminhada por alguns jardins do Porto organizada pelo projeto Futuro – 100.000 Árvores para a Zona Metropolitana do Porto, percebemos que há vida para além dos eucaliptos e encontrámos verdadeiros monumentos vivos a morar na cidade.
As árvores nossas amigas
No Porto, o passeio com o projeto 100.000 Árvores mostrou-nos a araucária gigante do Palácio de Cristal, os tulipeiros da Casa Tait e da Casa das Artes, o Ginkgo biloba dos jardins da CCDR-N, e outras árvores monumentais. Mas uma tarde de passeio com histórias à sombra de ramos como braços abertos, a distração das flores e das folhas translúcidas, do relevo dos troncos e da música do vento nas árvores, é sempre curta.
Valerá a pena debitar as lições que tivemos na escola, sobre “as árvores nossas amigas, que nos dão a fruta”, e “a sombra e a frescura que nos trazem no verão”, seguindo-se a importância da renovação do oxigénio e o equilíbrio do ecossistema?
A verdade é que, sem poder escolher, as árvores são mesmo nossas amigas; nós é que não queremos saber da amizade delas para nada: ou são desmesuradamente grandes e antigas e têm uma história associada, ou não lhes damos importância nenhuma. É comum encontrar nas cidades, lugares com nomes de árvores onde nem uma erva consegue nascer; ao longo das ruas são cortadas ou podadas à toa para não crescerem demais; por todo o lado são queimadas e arrancadas, quando podiam tornar-se verdadeiros monumentos à resistência e longevidade.
Há quem pense que canteiros e árvores são caixotes do lixo e vá depositando detritos junto a troncos, em jardins e matas, enfim, onde virem um pouco de terra e verde. É verdade que neste momento estamos tão distanciados da natureza que já nem sabemos em que época nascem as uvas ou as laranjas; há todo o ano, importadas do outro hemisfério. Porque havemos de conhecer as árvores, e ainda por cima gostar delas?
São um estorvo quando ocupam um lugar na berma, onde se podia estacionar mais um carro, fazem lixo quando deixam cair folhas, e mesmo que tenham cem anos, não impedem que no terreno onde moram se construa mais um prédio. É como se fossem facilmente substituíveis, mas infelizmente não é assim: a maior parte das árvores de porte demora muitas dezenas de anos a crescer – e apenas uns minutos a arder.
São obras de arte da natureza, e é pena que não possam contar o que viram. Vivem mais do que qualquer ser humano e resistem, no seu silêncio, à agressão e ao desprezo. Para além disso, têm em comum com os outros seres o facto de serem únicas e irrepetíveis; um pinheiro, seja de que espécie for, nunca é igual a outro.
A mim, basta-me olhar para elas para ficar feliz. Para além de me abrigarem do sol ou da chuva também me servem de antena: mal me sento por baixo de uma, na minha cabeça nascem letras de música e canções alegres – bem lá no fundo, sou um pássaro.
Felizmente que o projeto Futuro – 100.000 Árvores para a Zona Metropolitana do Porto nos aproxima destes seres fantásticos, dando-nos oportunidade de colaborar na plantação e manutenção de árvores endémicas onde elas mais falta fazem, nomeadamente em zonas ardidas. E mais do que isso, já que o “desamor” é quase sempre fruto da ignorância, dá-nos a conhecer o extraordinário mundo verde e silencioso das árvores, algumas das quais, felizardas, alcançaram o reconhecimento e, como tal, a consideração dos humanos.
Adorei o texto da mesma forma que também adoro árvores. Permita-me que partilhe consigo um texto escrito por mim, mais ou menos sobre o mesmo tema: http://viagens-a-solta.blogspot.pt/2014/11/manteigas-viagem-um-mundo-dourado.html
Houvera mais gente como nós e certamente viveríamos num planeta mais arborizado 🙂
Caro Elfo, adorei o sítio, as fotos e o texto que as acompanha! Tenho de fazer esse trilho, e vai ser já no próximo novembro!
Entretanto, vamos lá tratar das árvores! 🙂
Amiga,
leva-me contigo..não a Granada, como no poema de Eugénio, mas a Manteigas..ver árvores!
Quando for, prometo que te convido, Isabel! 🙂
Inspiracional e aspiracional este post. Obrigada!
Aspiracional? Mmmm… 🙂