Quentes e boas, é como se querem as castanhas, fruto de inverno, embora nestes tempos de aquecimento global até já se vendam no verão. Cozidas ou assadas são um acepipe incontornável; em pratos mais elaborados enriquecem e adoçam o sabor. Como nesta receita, que as combina com o sabor suave do tofu.
Receita de Castanhas com Tofu
É um estufado muito bom, para quem gosta da mistura de salgado e doce (da castanha). Pode acompanhar-se apenas com bocadinhos de pão para molhar no molho, ou com arroz branco.
É preciso: uma embalagem de 250 gr de tofu, o mesmo peso de castanhas já cozidas ou congeladas (sem casca nem camisa), 1 cebola, 1 pimento vermelho, 1 caldo de legumes.
Fazer um estrugido com a cebola picada. Juntar um pimento vermelho cortado em quadrados e o tofu em cubos. Deixar refogar um pouco e juntar as castanhas. Cobrir com água e juntar o caldo de legumes. Deixar cozer as castanhas e, se necessário, corrigir o tempero de sal. Servir junto à lareira.
Magusto: a festa das castanhas
Não há muitos frutos, legumes ou carnes que dêm nome próprio à refeição em que se consomem – mas se alguém disser “magusto” todos sabemos do que se trata: uma festança de onde os adultos saem bem regados com vinho novo e jeropiga, e os mais pequenos com a cara toda enfarruscada. Transformou-se num ritual comunitário, comer as castanhas com a família ou com os amigos, que ajudam a golpeá-las antes de as meter nas brasas ou no forno. E porque são um fruto de novembro, até ganharam um santo: “Em dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho”. Ou seja, de finais de outubro a meados de novembro (o dia do santo é 11 deste último), quando as estações do ano rodavam tranquilas e previsíveis, estaríamos em posse das primeiras castanhas, preparando-nos para as degustar de forma simples, cozidas com erva-doce ou assadas com sal – e talvez um pouquinho de manteiga, para os mais gulosos. Agora vemos as primeiras com as vindimas, em setembro, e podemos até consumi-las em julho ou agosto, porque já se vendem congeladas.
A castanha, castanea sativa, é originária da Ásia Menor e vem sendo consumida desde a pré-história. Chegou há Europa há milhares de anos e em muitas regiões produtoras, como é o caso da Serra da Padrela e envolventes, onde se situa a maior mancha de castanheiros da Península, e de Trás-os-Montes, onde ainda hoje se localizam 85% dos soutos portugueses, chegou mesmo a substituir o pão e a batata: “Sete castanhas são um palmo de pão”, diz-se na zona. Isto porque há pouco quem não goste de castanhas: fazem parte da sabedoria popular, da alimentação, da toponímia – e até da nossa própria família, se nos chamarmos Castanheira ou Souto.
O fruto – na verdade, a semente dentro do verdadeiro fruto, que é o ouriço – é saboroso e nutritivo. Podem consumir-se mesmo em cru, embora seja mais indigesto. Quando comparadas com as nozes, por exemplo, as castanhas surgem como mais pobres em gordura, mas boas fontes de vitaminas B6 e E, assim como de fibras e amido, ou seja, hidratos de carbono; lá diz o povo, “dá-me castanhas, dar-te-ei banhas”. Mas a verdade é que têm menos gorduras e calorias do que os outros frutos secos.
O seu gosto ligeiramente adocicado e aveludado (depois de cozinhadas – em cruas podem ser amargas) leva a que sejam associadas tanto a pratos doces como salgados: são usadas como acompanhamento de carnes, em sopas, purés, em sobremesas e doces, como o famoso “marron glacé”, que nada mais é que uma castanha caramelizada. A sensação de saciedade que se segue a um banquete de castanhas também não é de desprezar – para alguns, será até de evitar. Deve haver algum cuidado com as combinações, e talvez seja preferível consumi-las sozinhas, ou não as misturar com alimentos pesados, como a carne, para que no fim fiquemos todos amigos.
Existem várias espécies (judia, longal, cota, enxerta, etc.), mas o verdadeiro amigo da castanha gosta de todas, até porque “a castanha é de quem a come e não de quem a apanha”, provérbio pouco democrático que usa este fruto como um saboroso exemplo de oportunismo. A verdade é que esta é das poucas árvores cujos frutos podemos colher do chão, já que, quando maduro, o ouriço cai no solo e abre-se, facilitando a extracção da parte comestível.
Adaptado de texto publicado no magazine Fugas, do jornal Público
Amiga,só me falta a lareira 🙂
Saudades …
Para mim, as mais belas paisagens. E o melhor manjar.
Isabel, tu és uma verdadeira comedora de paisagens …
Adorei o conceito
Eu também! Obrigada!
Olá!
A mim, além da lareira, também faltam as castanhas e os outros ingredientes. 🙂
Gostei imenso do texto e das fotos [então, a foto do castanheiro… estupenda!].
Saudades de ti! .-)
Abraço.
Obrigada, Fernando!
Vamos plantar castanheiros um dia destes com o CRE?
😉