A outra Catalunha

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A Catalunha não é só aquele território dentro das fronteiras de Espanha; a língua e cultura catalãs estendem-se pelos Pirenéus e também fazem parte do território francês.

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 Catalunhas há duas

É daqueles “pormenores” culturais que só descobrimos a viajar: a Catalunha é em Espanha, mas também em França. As voltas da história determinaram que ambos os países dividissem um território de língua e cultura comuns com o Tratado dos Pirenéus, em que a Espanha cedia à França o que é hoje o departamento dos Pirenéus Orientais (Pyrénées-Orientales).

Para o resto do mundo, se do lado de Espanha a região se tornou famosa muito “a reboque” da sua pujante capital, Barcelona, o lado de França é uma surpresa atravessar os Pirenéus e perceber que, apesar da língua oficial ser o francês, há placas indicativas nas duas línguas e muito quem fale e defenda o uso do catalão.

As aldeias de montanha armam-se em forma de pirâmides, quase sempre com a torre de uma igreja a marcar o vértice. As cores são as da pedra, do cinza à cor de tijolo, quebradas por flores garridas e fachadas em tons contrastantes. A abadia de San Martí del Canigó – ou Saint Martin du Canigou -, equilibrada sobre um precipício coberto de vegetação de onde escorrem cascatas até um rio ruidoso lá no fundo, é um lugar a não perder. Fica junto ao monte com o mesmo nome e acede-se por um caminho que atravessa um bosque frondoso, terminando num miradouro com uma vista soberba sobre a região. Uma visita guiada permite passear no pequeno claustro ajardinado, rodeado de antigos túmulos e colunas de capitéis esculpidos.

A não perder também é a subida do próprio monte Canigou (ou Canigó) pelo col de Jou. O monte não chega aos 2.800 metros, mas a caminhada é magnífica: começa por uma passeata amena por bosques sombrios até aos primeiros montes de pedra, seguidos de placas de neve que ficam até ao fim da primavera. Há água com fartura em riachos e fontes até chegarmos ao grande circo glaciário que nos deixa ver o cume. O acesso é íngreme e pedregoso termina com uma “chaminé” de pedra que nos leva até uma plataforma assinalada por uma cruz e por uma bela rosa-dos-ventos de cerâmica vidrada. De um lado fica o vale e do outro o circo que atravessámos, onde agora podemos ver um lago cor de petróleo que tinha estado oculto pelas pregas do monte.

Menos “radical” é passear pela minúscula “Capadócia” de Ile-sur-Têt, ou percorrer o rosário de aldeias das redondezas – mas o há sérios riscos de overdose de abadias, torres sineiras, capelas ermitérios e claustros românicos; destacamos apenas San Michel de Cuixá e Marcevol, como magníficos representantes da arquitetura religiosa.

Das povoações, passando ao lado de Perpignan – a capital – que nos pareceu mais uma cidadezinha francesa, destacamos a belíssima Eus, mas também Castelnou, onde artistas fazem os seus retiros de inspiração e produzem joias medievais recriadas, cerâmicas modernas e objetos de decoração dignos dos melhores magasins de Paris. Em Elbes há não um, mas dois campanários na mesma igreja, e já na costa, Collioure é uma simpática vila cheia de galerias de arte (o símbolo do turismo é uma paleta), que inspirou pintores como Picasso, Chagall e Matisse. O ambiente é o de uma colónia de férias para ricos excêntricos, mas a praia, na sombra de um forte com uma torre em forma de bala, não se recomenda.

Muito montanhosa e feita de aldeias típicas (e turísticas) muito bem conservadas, a Catalunha Francesa combina paisagens de montanha com costa e recantos que se tornaram refúgio de artistas – sem dúvida, um território a visitar.

 


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