A Cidade Perdida de Machu Picchu

Destinos

A mais conhecida das “cidades perdidas” fica no sul do Peru, no cimo de uma montanha, cerca de 2.400 metros acima do nível do mar. Chamam-lhe Machu PicchuVelha Montanha ou Velho Pico, na língua local, o quíchua – e esteve durante séculos escondida por uma geografia elaborada, caprichosa, e também por uma densa floresta, quase tropical. Agora faz parte de um punhado de lugares no mundo que ultrapassa qualquer descrição ou fotografia, uma curta lista onde se poderia igualmente inscrever as ruínas da cidade de Angkor ou o Taj Mahal, cuja presença tem o dom de ultrapassar qualquer representação.

Machu Picchu, a Velha Montanha

Para além da inacessibilidade, a meteorologia também conspirou para que a cidade perdida de Machu Picchu tivesse sido tardiamente encontrada; ainda hoje a visão das ruínas é frequentemente adiada por chuvadas ou nevoeiros cerrados, que lhe reforçam a atmosfera misteriosa. Continua mesmo a discutir-se o porquê da sua construção neste local, mas provavelmente essa será uma falsa questão: o Caminho Inca, que atravessava o Império em todas as direções, passa por ali mesmo, com entrada pela Porta do Sol.

A tremenda força que emana, como entidade estética e histórica, e o poder quase hipnótico que possui, quebra-se com o eco das vozes e gargalhadas dos grupos de turistas que vão chegando durante o dia. As nuvens brancas e opacas que escondem o lugar e o revelam com parcimónia, levantando de um lado e escondendo do outro, atiçam a curiosidade e o desejo de ver o que está por trás. Obrigam-nos a parar e prestar atenção, mendigar por momentos a visão de pequenas partes: a parede de um palácio, uma escadaria de socalcos que se perde num precipício, um templo empoleirado numa colina. Obrigados a ver aos poucos, fixamo-nos nos detalhes: o encaixe incrivelmente minucioso das pedras, a regularidade geográfica dos socalcos, a sombra do monte Wayna Picchu, como um par de asas escuras que marca o fim da cidade.

A cidade de Machu Picchu vista do cimo do Wayna Picchu

Machu Picchu estende-se no sopé da Jovem Montanha, tradução de Wayna (ou Huayna) Picchu. É 360 metros mais alta e diz-se que era o refúgio dos sacerdotes e das virgens sagradas. Quem se atreve a subir o carreiro íngreme, com a ajuda de grampos e correntes de ferro cravadas na parede, alcança os templos e terraços construídos no cimo, e tem como prémio uma bela vista sobre o vale do rio Urubamba e as ruínas.  Mais selvagem e isolada do que Machu Picchu, dá-nos uma perspetiva inesquecível dos cumes mais próximos e da divisão da cidade em zonas agrícolas e urbanas. Os encaixes das pedras revelam a arquitetura única dos incas, que criavam formas redondas ou piramidais com blocos de centenas de toneladas, e construíam pontes estreitíssimas em paredes de rocha – méritos que lhes valeram a suspeita de terem superpoderes e conseguirem voar.

Na altura da sua descoberta pelo explorador norte-americano Hiram Bingham, em 1911, o local estava coberto por uma floresta onde abundavam víboras e mosquitos, que foram progressivamente sendo substituídos por turistas não menos invasivos, ao ponto de hoje se questionar o número de visitantes diários. No relato que faz no seu livro, o explorador confessa ter subido quase a rastejar grande parte da encosta rochosa e a pique, coberta por vegetação selvagem, onde apenas alguns índios em busca de terreno de cultivo vinham aproveitar os terraços construídos pelos seus antepassados. Revelar ao mundo as formas das casas, muralhas e templos foi um trabalho extenuante, que podemos apenas imaginar se fizermos a pé o trilho selvagem que desce até ao rio, em direção à povoação de Aguas Calientes.

A Velha e a Jovem Montanhas celebraram o centenário da sua descoberta em 2011, e desde 1983 que o local está classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Conselho: é essencial apanhar o primeiro autocarro, que sai de Aguas Calientes às sete da manhã, para ter uns momentos quase “a sós” com o lugar, e fazer a tremenda subida do Wayna Picchu para compreender o desenho da cidade, que só assim fica a nossos pés.


Pub


Quando viajo faço sempre um seguro de viagem pela Nomads


Maria Inês Silva Agosto 24, 2012 às 14:19

Adorei! Vou divulgar para os amigos. Quando for grande também quero lá estar…..

Responder

ana Setembro 1, 2012 às 19:32

Mas tu és grande, Inês! E podes lá estar nem que seja comigo, aqui…

Responder

Anabela Tomás Agosto 26, 2012 às 12:16

Ensina-me a fotografar assim… pode ser que mais tarde possa ir a estes locais.
O texto só podia ser teu. Sem comentários.

Responder

ana Setembro 1, 2012 às 19:24

Obrigada, Anabela. Espero que continues a viajar, por estes locais ou por outros. E quando não puderes, já sabes: podes sempre viajar aqui comigo!

Responder

Tino Outubro 8, 2012 às 19:27

Um dos meus sonhos mais antigos é visitar este local. Talvez porque também ouvi dizer que essa gente teria super poderes, ou simplesmente porque as tuas fotos aguçam ainda mais o apetite.
Obrigado pela partilha… de tanta coisa que ofereces com o teu olhar,
beijo

Responder

ana Outubro 9, 2012 às 15:04

Dizem que voavam, e ao ver as pontes que construiam só podemos acreditar!…
E para quando a concretização desse sonho antigo?

Responder

Cancel reply

Deixe o seu comentário!