O Equador deve ser o país sul-americano de que menos se fala. Talvez pela relativa estabilidade política e ausência de catástrofes naturais, coisas que abundam nos territórios vizinhos. Mas viajar neste patchwork de culturas há quase 30 anos atrás, foi uma experiência que me deixou memórias excelentes.
Equador, um ilustre desconhecido
À parte o abrigo dado, na sua embaixada de Londres, ao responsável pelo escândalo Wikileaks, o Equador não costuma andar nas bocas do mundo. Pequeno e diversificado, é um país que combina floresta amazónica, planalto andino – onde despontam uns trinta vulcões, uns mais ativos que outros – e costa marítima. Para não falar no tesouro que são as ilhas Galápagos, que não visitei.
Na faixa costeira, de clima quente, concentram-se o comércio e a indústria, e cultiva-se a maior parte dos produtos exportáveis, como banana, café e cacau, escoados através do porto de Guayaquil. Aqui é o território da maioria privilegiada, por oposição aos territórios mais pobres dos Andes, a admirável espinha dorsal da América do Sul, que se estende, interminável, da Venezuela à Terra do Fogo.
Nas montanhas, os habitantes mantiveram-se adversos aos intrusos de outras culturas – proeza memorável, só conseguida no Peru e na Bolívia. Mas por oposição ao bulício moderno da costa, a vida continua lenta, incluindo o desenvolvimento da economia local.
Para rematar esta manta geográfica, há que considerar a floresta tropical amazónica – o Oriente, como aqui é chamado – que faz fronteira com a Colômbia e o Peru, e que é em grande parte território bravio e inexplorado.
A capital, Quito, fica a 2.650 metros de altitude, o que lhe garante o título de segunda capital mais alta do mundo (depois de La Paz). Começou por ser um aldeamento fundado no século XV por incas vindos do Peru, cujas marcas desaparecerem quase completamente, à exceção das quase insignificantes ruínas de Ingapirca, perto de Cuenca, no sul do país. A Conquista espanhola chegou no século XVI e o centro histórico de Quito, classificado pela UNESCO, é disso testemunha: considerado o mais bem considerado do continente, é feito de vielas animadas, casas típicas, velhas igrejas e uma Plaza de Armas junto à imponente catedral.
Para chegar ao Oriente, que começa nas savanas tropicais de Puyo, a estrada serpenteia pelos contrafortes dos Andes e pode oferecer-nos o milagre de uma visão rápida sobre o cume nevado do Chimborazo, o monte mais alto do Equador, quase sempre escondido pela neblina. As estradas pioram, e entramos num mundo verde onde algumas aldeias parecem ter ficado esquecidas à mercê dos tentáculos retorcidos da selva. É uma luxúria de verdes, cascatas de água castanha que acende arco-íris suspensos em desfiladeiros e, por fim, o horizonte compacto da selva.
Em Misahuali iniciámos a descida do rio Napo, numa navegação precária que durou uma semana com uma canoa motorizada, que avançava condicionada por baixios e rápidos traiçoeiros até Limoncocha, onde nadámos num lago com piranhas, e caimões que só apareciam de noite…
Latacunga, Machachi, Otavalo e Zumbahua são nomes que para sempre conjuram na minha cabeça as imagens de ponchos coloridos, chapéus de abas estreitas, crianças levadas às costas dentro de panos com todas as cores do arco-íris, “comedores” de rua, instalados por uma manhã debaixo de um guarda-sol, pilhas de legumes e batatas que se vendem no chão, nos “mercados índios”. Homens bonitos e baixos, de trança longa que corre pelas costas e olhos como carvões, as feições graves no cambalear da ressaca de uma vida dura.
Um dia volto lá…
Fantástica partilha. Não sendo um dos meus destinos de eleição, fiquei cheio de curiosidade em conhecer.
Cumprimentos.
Obrigada, Tomás!
Olá estou por aqui a “navegar”, para me convencer a iniciar-me neste percurso de vida que é “viajar sozinha”. Gostei do que li no seu blog, e lê-lo, fez-me dar mais um passo em frente
Nem imagina como fico contente em lhe dar o empurrãozinho que falta! 🙂