Bordados do Kutch: o mundo por um fio

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A região do Kutch, na Índia, é conhecida pelas suas artes têxteis, como os bordados. Aqui os fios pregam a vida ao tecido – bichos, plantas, seres humanos –, ou reinventam-na através de desenhos geométricos e de pequenos espelhos que a refletem.

As artes têxteis do Kutch

A região do Kutch fica na província do Gujarate, na Índia, e é conhecida pelas suas artes têxteis, do bandhani (tie & dye, ou tingimento com nós) ao ajrakh (carimbagem de tecidos). Mas uma das artes mais espantosas do Kutch é a dos bordados, que podem ser tão imaginativos e intrincados como uma teia de aranha.

Os fios pregam a vida ao tecido – bichos, plantas, seres humanos – ou reinventam-na através de desenhos geométricos e espelhos que a refletem. Os pontos são microscópicos e não há regra para as cores, nem para os fundos.

Mas há estilos definidos, com nomes (que desconheço) perfeitamente identificados com etnias e  grupos de mulheres que, nas aldeias, trabalham em cooperativas. Muitas delas pertencem a ONGs cuja função é organizar as bordadeiras e vender o seu trabalho, na Índia e no estrangeiro.

Designers propõem formas atuais (bolsas para telemóveis, peças de roupa, bases para copos) e desenhos que respeitam a tradição, mas que se adequam ao produto. São feitas amostras, e só depois vem o pedido em quantidade.

Os bordados já se tornaram uma parte importante da economia de muitos lares, e contribuem de maneira decisiva para a vida das mulheres, dando-lhes uma independência e poder de decisão que as gerações anteriores não tiveram.

A ideia foi nascendo no Gujarate mas também no estado vizinho do Rajastão, depois de secas sucessivas terem praticamente destruído a forma de vida dos nómadas, que se deslocam com os seus rebanhos pelo deserto do Thar e pelo Rann do Kachchh (ou Kutch).

Como em todas as sociedades nómadas, as pequenas coisas transportáveis são tradicionalmente decoradas com grande pormenor: turbantes, blusas (femininas e masculinas), saias (o sari não é a roupa tradicional nesta região), mas também os sapatos, as bolsas, lenços… tudo era (e é) digno das agulhas destas mulheres, que acumulam o melhor para os seus dotes e vendem o resto.

Na última viagem à Índia fiz base em Bhuj para revisitar a região e (re)aprender a bordar. A diferença é notável no que diz respeito ao reconhecimento deste tipo de artesanato como um património riquíssimo e muito rentável. Os preços também subiram, mas continuam acessíveis.

Estava sobretudo interessada em aprender a bordar com os espelhos. A minha amiga e “professora”, Teena, ensinou-me com grande prazer e mostrou-me como ocupa as horas livres: guardados nos armários da casa tem centenas de trabalhos, alguns por terminar, que incluem peças de vestuário e de roupa de casa, patchwork e, sobretudo, dezenas de pedaços de tecido bordados.

Um desenho que agradou, cores novas para experimentar – e há mais um pedaço de tecido que fica coberto de fios coloridos, espelhos ou pompons. Reflexos de um impulso, espelhos do momento em que os bordou, cada um guarda a sua história.

 

Artista como poucas, Teena mistura estilos, faz o que quer com a agulha e o tecido; escreve por linhas tortas e direitas, histórias de animais e geometrias implacáveis que enchem os tecidos (ainda) sem destino. Se os transformasse em almofadas, enchiam-lhe a pequena casa impecável onde vive com o marido, Jeetendra ( The Kutch Tours).

Caso esteja interessado em alguma das peças, pode contactar-nos para obter mais informações.


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Quando viajo faço sempre um seguro de viagem pela Nomads


Comedores de Paisagem Maio 15, 2013 às 10:07

Bem, já aprendi…mas acho que o que vês aqui é trabalho de mestre com muitos anos de prática…

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Bia Abril 10, 2016 às 1:40

Vc sabe aonde na india encontro vestidos bordados a mao? Amei seu post! Estou indo p India e gostaria decsaber aonde encontro vestidos bordados!

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Comedores de Paisagem Abril 12, 2016 às 17:16

Procure aí mesmo, no Gujarate! Na província de Kutch são especialistas em bordados! 🙂

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Tairone Vieira Setembro 6, 2017 às 16:03

Adorei os bordados, amo esse arte, parabéns !!!

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Comedores de Paisagem Setembro 22, 2017 às 17:32

É uma arte antiga e refinada, que nunca vai morrer…

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