No Porto há jardins e parques para todos os gostos. Geralmente pequenos, muitas vezes aprazíveis e quase sempre com caráter próprio, como a cidade. Mas o que importa é o que nos fazem sentir…
Jardins com alma de Porto
O Porto não é conhecido como uma cidade de parques e jardins, apesar de o seu Parque da Cidade ser o maior do país. Mas há muitos, de todos os tamanhos, e a eles se deve muitos momentos felizes. O que seria do Porto sem o Jardim Botânico, o jardim do Palácio de Cristal ou o da Casa de Serralves? Ou do Jardim da Cordoaria, o tapete verde que se desdobra aos pés da Torre dos Clérigos, o ex libris da cidade?
Aprendemos na escola que as árvores renovam o ar que respiramos, dão sombra e frescura, abrigam os pássaros, e muitas até dão frutos que podemos comer. Utilidades. Mas não nos explicam como é absolutamente necessário para a nossa felicidade mergulhar nestas amostras de natureza em plena cidade, conviver com o verde, estar próximo destes gigantes pacíficos que nos transmitem paz com a sua força imóvel.
Um passeio lento por um jardim começa por prender a nossa atenção em coisas que não “vemos” todos os dias: troncos poderosos, folhas quase transparentes, pétalas coloridas, um centro de flor onde pousam abelhas. Uma aranha faz uma teia, as folhas sussurram ao ar, os pássaros agitam-se e cantam. Caminhando pelo jardim alheamo-nos da nossa própria existência e tornamo-nos observadores de um mundo que é equilibrado e perfeito.
No jardim do Palácio de Cristal a cidade transforma-se num rumor ao longe, as casas junto ao rio que corre lá no fundo, a ponte onde passam, sem ruído, carrinhos de brincar.
Calou-se o sino
O que chega a mim agora é o eco
Das flores
No Jardim Botânico os catos empertigam-se em picos rijos numa cama de pedras. Há recantos de buxo bem tratado que envolvem rosas e dálias, uma parede verde separa a cafetaria do jardim onde passearam a poetisa Sophia de Mello Breyner e Ruben A.
A erva à volta dos lagos do Parque da Cidade é um colchão fresco que os patos também gostam de aproveitar. Esticados ao sol, é difícil não ter pensamentos quentes e calmos, sentir a felicidade subir-nos pelos dedos das mãos e sorrir sem querer. Lá ao fundo espera-nos o mar e o bulício dos cafés de praia, mas a melhor parte é demorar a chegar lá, tomando o caminho mais longo, de terra, por entre árvores e flores.
A água é tão fria
Como pode a gaivota
Adormecer?
A Fundação Casa de Serralves tem um parque multifacetado onde podemos ler um livro sobre a erva, atravessar um túnel de liquidâmbares ou admirar uma oliveira alentejana com cerca de 1500 anos. Há sempre um recanto sossegado onde se descobre a beleza simétrica da flor do eucalipto, ou das folhas da aveleira. Um roseiral disciplinado alonga-se perto da Casa de Chá e as filas de urze trazem os montes à cidade.
O Jardim de São Lázaro, o mais antigo do Porto, o Jardim da Cordoaria, do Carregal ou das Virtudes são apenas mais alguns momentos de paz e de verde. Há jardins espalhados por toda a cidade, e para os conhecer vai precisar de veículo próprio – ou de alugar um carro.
Para quem tem pouco tempo, recomenda-se uma manhã no Parque da Cidade, que oferece a rara oportunidade de terminar o passeio com os pés no mar, e reservar a tarde para deambular nos Jardins do Palácio de Cristal, que oferece umas vistas soberbas sobre Gaia e o rio Douro, até ao por do sol…
Extingue-se o dia
Mas não o canto
Da cotovia
(Os haikus são do poeta zen japonês Matsuo Bashô, retirados de O Gosto Solitário do Orvalho seguido de O Caminho Estreito, publicado pela Assírio & Alvim.)
Encontra uma lista dos parques e jardins do Porto aqui.