Sardenha – O Mediterrâneo quase Perfeito

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O sul da Sardenha é uma zona genuína e acolhedora, que não está constrangida pelo turismo de luxo que já invadiu o norte da ilha, e quase todo o Mediterrâneo. Aqui encontramos uma costa belíssima com pequenas praias ventosas, fortalezas construídas por um dos povos mais misteriosos da Europa, e uma elegante – e muito mediterrânica – “capital”. E uma cereja no cimo do bolo: os sardos.

Sardenha, mediterrânica por natureza

Deve ser impossível passar algum tempo na Sardenha sem fazer amigos – ou, pelo menos, trazer boas memórias de conversas que nascem do nada, com o dono da loja que quer saber mais sobre fotografia, a senhora na paragem do autocarro que se transfigura em guia turística, o vendedor de gelados que é “quase vegetariano”. Solidão não rima com esta ilha italiana, onde o caloroso carácter mediterrânico (um lugar comum verdadeiro) não descamba – pelo menos de forma visível – no salve-se quem puder da desorganização institucionalizada.

Assim são os habitantes de uma ilha onde reina a beleza. A Sardenha é também dona de uma costa belíssima e muitos testemunhos históricos do seu passado. Começando pelo recente passado mineiro, em Masua podemos visitar as minas de Porto Flavia, datadas de 1924, e dar um passeio pelos corredores escuros que cruzam o interior da montanha tendo como guia um antigo mineiro. Muitas das galerias desembocam no mar, já que o minério era transportado em barcos até às centrais de transformação – e as saídas são agora varandas luminosas, que contrastam com o interior escuro. A luz intensa do sol mediterrânico atrai-nos lá para fora e o calor abrasador liberta perfumes intensos.

A paisagem do sul não desilude: a costa recorta-se em falésias durante quilómetros e do mar despontam ilhéus rochosos, de formas dramáticas, ou arcos misteriosos, como portais para paragens distantes e enigmáticas. O mar é um lago azul-turquesa transparente, onde os barcos dos pescadores parecem planar. Há praias “individuais” em curvas da falésia, com espaço, rochas e areia à medida de uma pessoa, alguns passeantes e barqueiros solitários, sem medo do sol quente que se abate sobre a ilha a partir de maio.

No sul fica também um dos mais importantes locais da civilização nuraghi: o sítio arqueológico de Su Nuraxi, protegido pela UNESCO. Situado nas proximidades de Barumini, data do final da Idade do Bronze e é o mais completo e elaborado exemplo de nuraghi, construções defensivas típicas da Sardenha, cujas funções ainda não estão totalmente esclarecidas. Seriam templos religiosos, moradias, fortes militares, ou locais de reunião? Muito provavelmente, uma combinação de tudo isto. Correspondem a uma época e a uma civilização que só existiu na Sardenha e estão geralmente localizados em locais estratégicos, no cimo de montes, funcionando como uma defesa passiva e um símbolo de poder de um povo do qual pouco se sabe, para além da sua adoração por água – de esperar, numa ilha predominantemente seca.

As ruínas permitem avistar, lá do alto, mais um pouco da paisagem, de recorte suave e marcada por colinas. No aglomerado de construções destacam-se as torres circulares e as pias para banhos rituais. Dentro do edifício central, dotado de um pequeno pátio e de um poço, multiplicam-se os corredores estreitos que levam a câmaras frescas e silenciosas, algumas com poços escondidos. A luz coada que desce dos tetos cónicos convida à introspeção, e a força dos enormes blocos domina e impressiona.

Muito diferente é o elegante casario de Cagliari, a cidade mais importante da ilha, cujas fachadas altas, de cores outonais, ganham leveza e graciosidade graças a uma quantidade generosa de janelas e varandas. Aqui todas as avenidas vão dar ao mar, e as ruelas e pracetas arborizadas são percorridas por vespas e peões. Vive-se nas esplanadas – muitas – e nos restaurantes, conversa-se de varanda a varanda. Come-se favas como quem come tremoços, espremendo a ponta, e um delicioso pão à base de sêmola de trigo, o estaladiço pane carasau. A sesta institucional pode fechar grande parte do comércio até às 17h30, mas podemos aproveitar o tempo visitando o Museu Arqueológico para aprender mais um pouco sobre os nuraghi: o museu guarda uma fabulosa coleção de estatuetas de metal que levanta mais umas pontas sobre a vida deste povo…

San Sperate fica nas proximidades e seria uma povoação comum, se não se destacasse como Paese Museo (Terra Museu), graças a uma tradição recente que consiste em “entregar” muros e paredes a artistas, que por ali deixam a sua marca. Os murais nas paredes de casas e esplanadas de cafés são a intervenção mais visível, exibindo cenas da vida de todos os dias: a senhora que estende roupa numa corda batida pelo vento, uma fila de ciclistas que foge da chuva, uma mão cheia de pêssegos – os daqui são famosos –, de um amarelo sumarento.

Um único elemento perturba este cenário mediterrânico perfeito: o vento, que às vezes parece capaz de levantar as pedras do chão: se não sopra o sirocco, sopra a tramontana – uma espécie de nortada, que me garantem tornar o calor sufocante do verão mais suportável -, e de vez em quando também passa o mistral, mais frio, que chega ao sul de França. Só para provar que não há lugares perfeitos…


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