Viajar é preciso

Coisas do Mundo

Em descanso ou em exploração, escolher o pouco tempo que geralmente se tem por ano para fugir ao trabalho é coisa importante: umas férias mal passadas ou uma viagem cheia de percalços sabem a nada, e não permitem retomar o fôlego antes de mergulhar outra vez na rotina.

EPV0042_resize

O vício de viajar

Muitos já descobriram que mais vale dedicar algum tempo a consultas e pesquisas antes de viajar, para tomar a decisão mais adequada aos seus desejos e possibilidades. Para além disso, cada um tem o seu estilo, revelador da personalidade se tivermos em atenção o modus operandi.

Há os camaradas, que querem ir com os amigos independentemente do sítio que escolham – praia ou montanha, aldeia bucólica ou cidade monumental, o importante é a companhia, a garantir conversa e apoio. Os inseguros preferem um lugar onde já esteve alguém seu conhecido, de preferência há pouco tempo, para terem certezas sobre a qualidade dos hotéis, os alimentos que terão à disposição e a segurança da zona. Os que ”não-podem-mas-querem” recolhem abundantes ofertas nas agências de viagem e vão eliminando as que têm mais algarismos, enquanto os novos-ricos funcionam ao contrário destes, atitude que lhes permite mais tarde mostrar as fotos – onde nunca estão mais novos nem mais ricos – com orgulho e preconceito. Os desinteressados, que “só querem sair daqui para fora” – atitude que geralmente garante que se aborreçam tanto aqui como no Quirguistão -, esses, deixam isso com o familiar ou amigo mais próximo.

Andes, Argentina

O grupo dos fanáticos todos os anos escolhe um destino de tema único – praia, montanha, museus – e aproveita as férias para se dedicar diária e abundantemente à sua actividade preferida, seja engolir quilómetros numa BTT ou estorricar oito horas por dia em cima de uma toalha. Há quem viaje antes de partir, rodeando-se de mapas, revistas, guias e informações retiradas da net, e quem continue a viagem depois de chegar, contando mil vezes as suas epopeias no Algarve e Costa da Caparica, exibindo as imagens captadas durante o êxtase. Um pequeno grupo de fascinados requisita estes dias, tradicionalmente dedicados à sua dose de felicidade anual, para cumprir um sonho: uma quinzena de meditação na Índia, um raide no mítico Tibete, uma semana de camelo nas dunas do Sara, uma expedição ao Evereste; impressionados por um documentário ou uma experiência alheia, procuram longe o cenário dos seus sonhos.

Serra da Peneda, Portugal

Para todos os que não se importam de passar por alguns riscos calculados e aceitáveis, as viagens organizadas são a última das torturas, com as suas horas diárias marcadas e as “manhãs livres para compras”. Nas viagens independentes, sobretudo nas mais longas, muitos conseguem viver “aqueles” momentos especiais, mas muitos outros sucumbem à falta de romantismo das horas de espera por transportes que não chegam, fome e sede ocasionais, vendedores de tapetes e, sobretudo, inefáveis problemas intestinais que surgem nos momentos mais indesejáveis. É mesmo verdade: de dentro de uma casa-de-banho pública indiana nunca há um ângulo bom sobre o Taj Mahal.

O que interessa é que quando tudo corre bem, todos parecem retirar o mesmo prazer das suas experiências, sejam elas mais ou menos elaboradas. E grande parte da população portuguesa, mesmo tendo sonhos mais elevados que não pode concretizar, consegue arranjar alguma paz de espírito num alegre convívio com família e amigos em qualquer lugar do planeta – desde que se possa petiscar umas coisas e beber umas cervejas. O mais importante é mesmo a viagem interior, e aí só cada um sabe se foi muito longe ou se ficou mesmo por aqui.

 


Pub


Quando viajo faço sempre um seguro de viagem pela Nomads


Paula Calheiros Agosto 15, 2015 às 12:49

adorei o artigo. o mais importante é mesmo a viagem interior e o que cada um engrandece com cada viagem que escolhe.
mas viajar é tão preciso…..

quando puder vou com os comedores de paisagem:)
beijinhos!

Responder

Comedores de Paisagem Agosto 15, 2015 às 12:52

Obrigada, Paula! E gostava muito que viesses! Gente boa viaja bem… 🙂

Responder

Paulo Azevedo Agosto 16, 2015 às 10:19

Excelente artigo camarada comedora de paisagens. Concordo em absoluto, a vida deve ser vivida da forma que cada um quer e o faz sentir melhor. 🙂

Responder

Comedores de Paisagem Agosto 17, 2015 às 2:38

Obrigada Paulo. Para mim, é mesmo assim…

Responder

Isabel Alves Agosto 17, 2015 às 16:55

Boa reflexão!

Sim, viagens – e muitas – no interior de cada um. Chega-se mais longe!

Responder

Deixe o seu comentário!