Em descanso ou em exploração, escolher o pouco tempo que geralmente se tem por ano para fugir ao trabalho é coisa importante: umas férias mal passadas ou uma viagem cheia de percalços sabem a nada, e não permitem retomar o fôlego antes de mergulhar outra vez na rotina.
O vício de viajar
Muitos já descobriram que mais vale dedicar algum tempo a consultas e pesquisas antes de viajar, para tomar a decisão mais adequada aos seus desejos e possibilidades. Para além disso, cada um tem o seu estilo, revelador da personalidade se tivermos em atenção o modus operandi.
Há os camaradas, que querem ir com os amigos independentemente do sítio que escolham – praia ou montanha, aldeia bucólica ou cidade monumental, o importante é a companhia, a garantir conversa e apoio. Os inseguros preferem um lugar onde já esteve alguém seu conhecido, de preferência há pouco tempo, para terem certezas sobre a qualidade dos hotéis, os alimentos que terão à disposição e a segurança da zona. Os que ”não-podem-mas-querem” recolhem abundantes ofertas nas agências de viagem e vão eliminando as que têm mais algarismos, enquanto os novos-ricos funcionam ao contrário destes, atitude que lhes permite mais tarde mostrar as fotos – onde nunca estão mais novos nem mais ricos – com orgulho e preconceito. Os desinteressados, que “só querem sair daqui para fora” – atitude que geralmente garante que se aborreçam tanto aqui como no Quirguistão -, esses, deixam isso com o familiar ou amigo mais próximo.
O grupo dos fanáticos todos os anos escolhe um destino de tema único – praia, montanha, museus – e aproveita as férias para se dedicar diária e abundantemente à sua actividade preferida, seja engolir quilómetros numa BTT ou estorricar oito horas por dia em cima de uma toalha. Há quem viaje antes de partir, rodeando-se de mapas, revistas, guias e informações retiradas da net, e quem continue a viagem depois de chegar, contando mil vezes as suas epopeias no Algarve e Costa da Caparica, exibindo as imagens captadas durante o êxtase. Um pequeno grupo de fascinados requisita estes dias, tradicionalmente dedicados à sua dose de felicidade anual, para cumprir um sonho: uma quinzena de meditação na Índia, um raide no mítico Tibete, uma semana de camelo nas dunas do Sara, uma expedição ao Evereste; impressionados por um documentário ou uma experiência alheia, procuram longe o cenário dos seus sonhos.
Para todos os que não se importam de passar por alguns riscos calculados e aceitáveis, as viagens organizadas são a última das torturas, com as suas horas diárias marcadas e as “manhãs livres para compras”. Nas viagens independentes, sobretudo nas mais longas, muitos conseguem viver “aqueles” momentos especiais, mas muitos outros sucumbem à falta de romantismo das horas de espera por transportes que não chegam, fome e sede ocasionais, vendedores de tapetes e, sobretudo, inefáveis problemas intestinais que surgem nos momentos mais indesejáveis. É mesmo verdade: de dentro de uma casa-de-banho pública indiana nunca há um ângulo bom sobre o Taj Mahal.
O que interessa é que quando tudo corre bem, todos parecem retirar o mesmo prazer das suas experiências, sejam elas mais ou menos elaboradas. E grande parte da população portuguesa, mesmo tendo sonhos mais elevados que não pode concretizar, consegue arranjar alguma paz de espírito num alegre convívio com família e amigos em qualquer lugar do planeta – desde que se possa petiscar umas coisas e beber umas cervejas. O mais importante é mesmo a viagem interior, e aí só cada um sabe se foi muito longe ou se ficou mesmo por aqui.
adorei o artigo. o mais importante é mesmo a viagem interior e o que cada um engrandece com cada viagem que escolhe.
mas viajar é tão preciso…..
quando puder vou com os comedores de paisagem:)
beijinhos!
Obrigada, Paula! E gostava muito que viesses! Gente boa viaja bem… 🙂
Excelente artigo camarada comedora de paisagens. Concordo em absoluto, a vida deve ser vivida da forma que cada um quer e o faz sentir melhor. 🙂
Obrigada Paulo. Para mim, é mesmo assim…
Boa reflexão!
Sim, viagens – e muitas – no interior de cada um. Chega-se mais longe!