Viajar é preciso

Coisas do Mundo

Em descanso ou em exploração, escolher o pouco tempo que geralmente se tem por ano para fugir ao trabalho é coisa importante: umas férias mal passadas ou uma viagem cheia de percalços sabem a nada, e não permitem retomar o fôlego antes de mergulhar outra vez na rotina.

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O vício de viajar

Muitos já descobriram que mais vale dedicar algum tempo a consultas e pesquisas antes de viajar, para tomar a decisão mais adequada aos seus desejos e possibilidades. Para além disso, cada um tem o seu estilo, revelador da personalidade se tivermos em atenção o modus operandi.

Há os camaradas, que querem ir com os amigos independentemente do sítio que escolham – praia ou montanha, aldeia bucólica ou cidade monumental, o importante é a companhia, a garantir conversa e apoio. Os inseguros preferem um lugar onde já esteve alguém seu conhecido, de preferência há pouco tempo, para terem certezas sobre a qualidade dos hotéis, os alimentos que terão à disposição e a segurança da zona. Os que ”não-podem-mas-querem” recolhem abundantes ofertas nas agências de viagem e vão eliminando as que têm mais algarismos, enquanto os novos-ricos funcionam ao contrário destes, atitude que lhes permite mais tarde mostrar as fotos – onde nunca estão mais novos nem mais ricos – com orgulho e preconceito. Os desinteressados, que “só querem sair daqui para fora” – atitude que geralmente garante que se aborreçam tanto aqui como no Quirguistão -, esses, deixam isso com o familiar ou amigo mais próximo.

Andes, Argentina

O grupo dos fanáticos todos os anos escolhe um destino de tema único – praia, montanha, museus – e aproveita as férias para se dedicar diária e abundantemente à sua actividade preferida, seja engolir quilómetros numa BTT ou estorricar oito horas por dia em cima de uma toalha. Há quem viaje antes de partir, rodeando-se de mapas, revistas, guias e informações retiradas da net, e quem continue a viagem depois de chegar, contando mil vezes as suas epopeias no Algarve e Costa da Caparica, exibindo as imagens captadas durante o êxtase. Um pequeno grupo de fascinados requisita estes dias, tradicionalmente dedicados à sua dose de felicidade anual, para cumprir um sonho: uma quinzena de meditação na Índia, um raide no mítico Tibete, uma semana de camelo nas dunas do Sara, uma expedição ao Evereste; impressionados por um documentário ou uma experiência alheia, procuram longe o cenário dos seus sonhos.

Serra da Peneda, Portugal

Para todos os que não se importam de passar por alguns riscos calculados e aceitáveis, as viagens organizadas são a última das torturas, com as suas horas diárias marcadas e as “manhãs livres para compras”. Nas viagens independentes, sobretudo nas mais longas, muitos conseguem viver “aqueles” momentos especiais, mas muitos outros sucumbem à falta de romantismo das horas de espera por transportes que não chegam, fome e sede ocasionais, vendedores de tapetes e, sobretudo, inefáveis problemas intestinais que surgem nos momentos mais indesejáveis. É mesmo verdade: de dentro de uma casa-de-banho pública indiana nunca há um ângulo bom sobre o Taj Mahal.

O que interessa é que quando tudo corre bem, todos parecem retirar o mesmo prazer das suas experiências, sejam elas mais ou menos elaboradas. E grande parte da população portuguesa, mesmo tendo sonhos mais elevados que não pode concretizar, consegue arranjar alguma paz de espírito num alegre convívio com família e amigos em qualquer lugar do planeta – desde que se possa petiscar umas coisas e beber umas cervejas. O mais importante é mesmo a viagem interior, e aí só cada um sabe se foi muito longe ou se ficou mesmo por aqui.

 


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Quando viajo faço sempre um seguro de viagem pela Nomads


Paula Calheiros Agosto 15, 2015 às 12:49

adorei o artigo. o mais importante é mesmo a viagem interior e o que cada um engrandece com cada viagem que escolhe.
mas viajar é tão preciso…..

quando puder vou com os comedores de paisagem:)
beijinhos!

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Comedores de Paisagem Agosto 15, 2015 às 12:52

Obrigada, Paula! E gostava muito que viesses! Gente boa viaja bem… 🙂

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Paulo Azevedo Agosto 16, 2015 às 10:19

Excelente artigo camarada comedora de paisagens. Concordo em absoluto, a vida deve ser vivida da forma que cada um quer e o faz sentir melhor. 🙂

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Comedores de Paisagem Agosto 17, 2015 às 2:38

Obrigada Paulo. Para mim, é mesmo assim…

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Isabel Alves Agosto 17, 2015 às 16:55

Boa reflexão!

Sim, viagens – e muitas – no interior de cada um. Chega-se mais longe!

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