E se perdermo-nos fosse a melhor coisa que podia acontecer? E se de cada vez que se procurasse um lugar encontrássemos outros, pelo menos tão fascinantes como o que não encontramos? Tudo é possível na Serra da Freita, num dia de nevoeiro…
Na Serra da Freita, em busca de Drave
Andei por duas vezes perdida na Serra da Freita, à procura da aldeia de Drave; da primeira vez consegui lá chegar e da segunda não, mas nunca dei os dias como mal gastos. Pelo contrário: ficou mais uma vez provado que o caminho é mais importante que o destino.
A rudeza e o abandono da serra, uma combinação de cabeços graníticos polvilhados por cabras, vacas e cavalos solitários que nos miravam de longe, pontes e capelas por ali postos no meio do nada, a atmosfera de “mundo perdido” reforçada pela estreiteza da estrada, que se desenrola como uma corda muito bamba pelo planalto, afunilando como se fosse desaparecer – quase tudo foi tão bom como chegar a Drave.
A culpa é do nevoeiro, embrulho milagroso que pode tornar bonito o que é feio, e vice-versa.
As nuvens subiam e desciam, escondiam e destapavam pontes de pedra, prados verdes, cabeços de formas estranhas e aldeias de que ainda hoje não sei o nome. Sei que eram feitas de pedra e lousa: aldeias inteiras com casas saídas da história de “João e Maria e a Casinha de Chocolate”, com um cheiro a fumo me atirava para as cozinhas da infância, onde as tias-avós transmontanas faziam os seus chouriços, tricotavam as suas rendas e se entreajudavam para descascar sacos de ervilhas que traziam das hortas.
Por sentido de humor ou verdade verdadinha, uma das aldeias tinha um espigueiro equipado com um cartaz que anunciava Espaço Internet, com uma cabra desenhada: internet para cabras? A cabra da internet que não funciona? Não havia vivalma nas ruas empedradas para deslindar o mistério…
A Queda da Mizarela estava invisível por trás de uma cortina opaca de nuvens. Só o som contínuo da água confirmava a sua existência, algures, num plano inacessível. Nada era visível, identificável. Não havia placas, não havia horizonte, era preciso admitir que estávamos perdidos. Mas como é que se pode ficar irritado numa paisagem destas? Recomeçamos a aprendizagem da humildade: chegar a um beco sem saída, voltar para trás. Passar outra vez por penedos que parecem cérebros petrificados, pontes de pedra, a estradinha a rabear, agora em sentido contrário. O nevoeiro mostrava outros ângulos; uma capela desinteressante, de repente, revelou-se mística, talvez por causa da massa encrespada de rochedos negros onde se aninhava.
Os rolos cinzentos das nuvens pareciam sólidos. Entrámos na sombra, caminhando entre giestas e musgo, um chão de pedra mal coberto por plantas. O sol tentava furar aqui e ali, mas as nuvens cerravam fileiras e não o deixavam passar. Humidade e silêncio. Um cavalo saiu do nevoeiro e veio cheirar-me o peito e as mãos, desaparecendo outra vez nas nuvens com o passo seguro de quem sabe onde vai. Eu continuava sem saber. Mas se Nenhures é assim, então é um sítio fantástico.
A cabra da net…
Tolle Fotos!!! Und ein Plädoyer für die Entschleunigung und den Respekt vor der Natur.
Bem! Assim de repente, só compreendi “Tolles Fotos” – fotos bonitas!
Obrigada Suzanne!
Muito bonita a nossa/ deles Serra da Freita. Nunca lá estive, mas as fotografias deixaram um bichinho para descobri-la. Espero que com guia, para não me perder no nevoeiro.
Sem querer desiludir, da primeira vez fui com guia, da segunda era eu o guia…
Mas a sério: é um lugar onde vale a pena perdermo-nos!
Muito legal!!
#Vegan Nation
A aprendizagem da humildade: que coisa bonita, Ana! É isso: tens razão: aprendamos através da natureza.
Só temos a aprender…
É isso!