De Trabzon a Sumela, pela história da Turquia

Lugares Improváveis

Trabzon, a antiga Trebizonda, é a maior cidade turca da costa do Mar Negro. Sem atrativos especiais para reter os turistas, guarda nas proximidades dois testemunhos muito interessantes da história da Turquia.

1Turquia-Sumela1_p1_resize

 Trebizonda e o Mosteiro das Nuvens

Hoje chama-se Trabzon e é uma indistinta cidade turca, a maior da costa do Mar Morto, com um porto que controla a maior parte das importações e exportações para os países vizinhos, como a Geórgia. Já era porto em 745 a.C., quando os gregos lhe chamavam Trapezus, e assim continuou por mais 2000 anos. Tal como em todas as cidades portuárias, deu-se mais importância a estradas e outras estruturas práticas do que propriamente ao embelezamento da zona; à exceção de um caravançarai reconstruído, uma bela mesquita e um bazar com algumas ruas pedonais, a cidade é agora apenas um ponto de paragem para quem vai ou volta de Safranbolu ou das montanhas de Kashkar. Mas a história da Turquia está aqui gravada, e bem visível em pelo menos dois pontos: a igreja, agora museu, de Aya Sofya e o mosteiro bizantino de Sumela.

Os cruzados cristãos chegaram em 1204 e estabeleceram um império na costa do Mar Negro, que tinha a cidade – agora chamada Trebizonda – como capital. Até à conquista otomana, em 1461, oito anos depois de Constantinopla, a cidade era conhecida como um grande centro de comércio e sólidas alianças com genoveses, persas, mongóis e seljúcidas da Anatólia.

Depois dos turcos otomanos saírem vencidos da Iª Grande Guerra – os bombardeamentos russos arrasaram a cidade quase por completo -, habitantes gregos locais ainda tentaram criar uma República de Trebizonda, mas os turcos impuseram-se, com Ataturk considerar a zona uma das mais importantes do jovem país. Trabzon entrou na sombra como cidade, mas continua com um porto muito ativo.

Igreja de Aya Sofya, Trabzon.

Aya Sofya sobreviveu e foi reconstruída nos anos 60. Fica numa espécie de terraço onde antes existia um templo pagão, bem fora do centro da cidade. É uma igreja simples, em estilo bizantino, situada num jardim com vista para o mar. Mais do que a estrutura, a localização e o interior, com pinturas e frescos da época ainda a cobrirem parte das paredes e do teto, valem bem a visita.

O Mosteiro de Sumela, localizado num vale, a cerca de 1200 metros de altitude, permite um vislumbre dos bosques frescos que cobrem as encostas do Mar Morto, para quem ainda não teve oportunidade de os percorrer. Foi construído como um mosteiro grego ortodoxo dedicado à Virgem Maria, e fica a cerca de 50 km (quase uma hora) de Trabzon.

Chamaram-lhe Mosteiro das Nuvens por causa dos nevoeiros frequentes que se avistam lá de cima, entalados nos vales. Foi abandonado em 1923, depois de criada a República Turca, e só em 2010 é que se voltou a celebrar os ritos ortodoxos gregos no local – embora este continue a ser apenas um monumento bizantino. Os frescos no interior das ruínas – os mais baixos, danificados por pastores que se divertiam a mandar pedras com fisgas – foram feitos durante dez séculos, do IX ao XIX, e as cores ainda continuam vivas.

O passeio até à parede de rocha onde o mosteiro parece miraculosamente pregado faz-se em meia hora; são apenas 250 metros, por vezes íngremes, dentro de um belo bosque, passando por miradouros e uma cascata. Aconselho vivamente a que se saia da estrada e siga o carreiro assinalado, para uma experiência menos turística – sobretudo aos fins de semana.

Na região de Trabzon ficou assim registada mais um pouco da história da Turquia, que o país teve o bom senso de não querer eliminar e reduzir a um caminho só. É a multiplicidade de culturas, religiões, paisagens e gastronomia que faz toda a diferença quando se visita este país-cruzamento entre a Ásia e a Europa. E são estas surpresas dispersas em lugares que à partida nem parecem muito interessantes, que fazem com que se volte um dia para descobrir mais qualquer coisa…

 

 


Pub


Quando viajo faço sempre um seguro de viagem pela Nomads


Deixe o seu comentário!