Mulheres de Viagem

Coisas do Mundo

Ao contrário do que nos fazem saber, muitas vezes de maneira subliminar, viajar é bem mais seguro para uma mulher do que para um homem. E viajar sozinha é uma experiência única, sem nada de assustador…

À boleia na Capadócia. Sem perigo de vida.

A pedido de várias famílias, já teci vezes sem conta considerações sobre “os perigos” de uma mulher viajar sozinha; já jurei que não havia problemas especiais, provei que era tratada nas palminhas, demonstrei com estatísticas e gráficos coloridos que a relação entre o género e a deslocação geográfica não é, de todo, desfavorável às mulheres. Mas as pessoas continuam a rezar a mesma oração: a Oração da Fraqueza.

Se dermos ouvidos a estes génios formados pela Universidade TV – e há muitas mulheres entre eles – uma mulher sozinha é instantaneamente violada mal põe o pé fora de qualquer aeroporto, em qualquer dos três maiores continentes do mundo; se assim não for teve muita sorte, mas terá de fazer vigilância cerrada em todas a direções porque os homens vão andar atrás delas e podem tornar-se violentos – e toda a gente sabe que uma mulher é fraca e não se sabe defender.

Depois temos o problema número dois: os roubos. Uma mulher pode ser roubada com toda a facilidade porque é fraca e não se sabe defender, e os ladrões podem ser violentos.

Um terceiro problema específico, mais recente, e que aparece juntamente com os outros dois, é o dos países islâmicos: aí, uma mulher sozinha pode ser atacada, raptada e morta, porque eles não gostam de ver mulheres na rua – e a mulher é fraca e não se sabe defender.

Se juntarmos a tudo isto os problemas que os homens também partilham, como seja a possibilidade de adoecer e ver-se sem apoio, a dificuldade em comunicar naquelas línguas estranhas, etc. temos uma imagem tão terrífica da viagem em solitário para o género feminino, que mais vale ficar em casa a ver o canal Odisseia.

Pois bem, mais uma vez: é exatamente o contrário. Sobre o problema da violação, nos dias que correm é melhor não fazer juras quanto à relação risco/género; digamos apenas que depende da situação e do local. E a menos que se pretenda viajar para um cenário de guerra, onde tudo pode acontecer a qualquer um, em situação normal as mulheres são avisadas sobre as zonas perigosas (mesmo quando não são assim tanto), protegidas e postas em primeiro lugar, em caso de dificuldades. Nos países islâmicos, meus senhores e minhas senhoras, é considerada uma grande cobardia e uma vergonha atacar fisicamente uma mulher, e até a maior parte dos grupos radicais de analfabetos que se auto-intitulam “islâmicos” se esquiva a utilizar a violência sobre estes seres tão frágeis – pelo menos em público. E é justamente nestes países, em que existe maior desigualdade social entre homens e mulheres, que nos vêm trazer água e refrescos quando a camioneta avaria, que nos vão buscar a única cadeira da sala de espera, que passamos à frente nas filas. Às vezes basta fazer a voz mais fininha, e temos logo um lugar sentado no autocarro. E quem é que nunca arredondou os olhos para um funcionário, queixando-se do desconforto e do calor, só para obter um visto na altura e não ter de vir buscá-lo mais tarde?

Já os homens, estão entre iguais, que se arranjem. Têm mesmo é de mostrar que não sofrem, para não serem olhados de lado e desprezados.

Sejamos realistas: o maior risco que uma mulher corre em viagem é o de ter um acidente, sobretudo de viação. Conduções loucas, veículos fora do prazo, para dizer o mínimo, é isso que constitui o maior perigo de vida para quem viaja, sobretudo em países menos desenvolvidos. O mesmo de um homem, portanto.

Quanto à fraqueza feminina, a menos que estejamos a falar de um judoca/Karateka de sangue frio, gostava de ver um homem defender-se de um ou dois meliantes que o apanhem sozinho num canto escuro, verdadeiramente decididos a assaltá-lo. Para além do mais, parece-me que, por serem tão destemidos, muitos machos têm tendência para se meterem em situações de risco mais facilmente do que as mulheres. E ainda por cima consta que têm vergonha de chorar e de pedir ajuda, duas atitudes que podem ser de extrema utilidade em certos casos pontuais. Que bom ser fraquinha!


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Quando viajo faço sempre um seguro de viagem pela Nomads


Rita Maio 9, 2016 às 12:31

bom saber que há mais portuguesas como eu a viajar pelo mundo sozinhas e a boleia e ainda para mais vegetarianas 🙂 muito interesantes os teus artigos

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Comedores de Paisagem Maio 25, 2016 às 14:45

Há mais, sim, Rita! Não estamos sozinhas!
Um abraço e passa sempre por aqui!
🙂

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Tânia Junho 10, 2016 às 3:05

É mesmo isso! Só experimentando é que percebemos que afinal, os receios iniciais quase sempre não fazem sentido nenhum. Ainda bem!

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Comedores de Paisagem Junho 16, 2016 às 13:57

Ora ainda bem que anda aí quem concorda comigo! 😉

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Conceição Julho 14, 2016 às 11:36

Difícil é dar o passo. A vontade de viajar sozinha já existe há tanto tempo, mas concretizar parece dificil… Mas tenho a certeza, se bem me conheço, que quando o fizer não vou querer outra forma de viajar. Mas de repente, aos 50, parece um passo para um mundo desconhecido e selvagem… tenho de arriscar. Obrigada pelo texto motivador.

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Comedores de Paisagem Julho 14, 2016 às 15:24

É começar por um destino que lhe seja mais familiar, Conceição. Europa? Brasil? Cabo Verde? O mundo é desconhecido e selvagem, mas também é muito mais acolhedor do que se possa pensar… 😉

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Maria Leonor Henriques Setembro 1, 2016 às 5:07

Que interessante ler coisas que fazem tido o sentido! Acabo de regressar às viagens que fiz, tambem sozinha, há mais de 40 anos.
Uma aventura, uma grande licão de vida. Acreditem que passei decadas a viajar com amigos, colegas, familiares. E de todas trazemos boas recordacoes. Um dia percebemos que o desafio é
Partirmos sós…num teste à nossa capacidade organizativa, criativa, defensiva e sobretudo numa demonstracao de coragem. E
é ai que percebemos que as nossas limitativas caem por terra. Nao hesitem, nao desistam, VĀO. E será uma inolvidavel experiencia! Sob ponto vista humano, histórico, sociológico, cultural, artístico…Sim, tem um enorme perigo: o de nao lhe apetecer regressar, esta-se tao bem, com tanta serenidade e prazer, sem cedencias nem negociacoes…O perigo è a vontade de voltar a fazer o mesmo!!! Porque a liberdade é um luxo e viciante!
Tenho 60 anos, a caminho dos 61, e agora, perdido o meu grande companheiro das viagens de uma vida, voltei a estrada rD
sozinha…Com o mesmo entusiasmo com que :/ as projectava aos 18/20 anos. Estive recentemente na magnifica Polonia que amei, durante 12 dias, num empogante Inter-rail por todo o pais. Pontos negativos? 0!!! Nao

Pouco se percebe a lingua e??? A nossa sensibilidade e facil sorriso fazem magres. O resto é usufruir, aprender, interagir, socializar… Nao tenham medo. Se Deus me permitir voltarei a faze-lo, e é já no fim do ano? Em boa verdade sò estarâo sós quando quiserem e há tanta gente estimulante e Interessante por esse planeta fora para conhecer! Estou ao dispor para desfazer esses tabus e medos…A vida nao nos dá segunda oportunidade. Convem nao deixar para amanha , que pode ser tarde! Bora meninas corajosas!!! Maria Leonor Henriques

sorriso

or todo o pais.

Maria

As

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Comedores de Paisagem Setembro 2, 2016 às 11:32

Leonor, lamento a sua perda, mas confesso que fiquei feliz por saber que continua a caminhar sozinha! 🙂
E é isso mesmo: o GRANDE PERIGO é não apetecer regressar! Adorei!!!! 🙂

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Bárbara Julho 30, 2016 às 22:01

Olá boa noite!
Desde já felicito-a pelo texto!
Eu estou aqui meia indecisa e a precisar de incentivo!! ?
Estou a menos de 24h de marcar ou não voo para a Tailândia e Singapura…
Pela primeira vez estou quase decidida a viajar sozinha.. Mas o receio de bichinho está a passar a bicho, ainda não é monstro!! Ainda por cima o voo faz escala em Istambul.. Uma delas de 7h!!!!
Obviamente que já deve ter passado por esses locais..
Algum conselho?
Agradeço desde já!

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Comedores de Paisagem Setembro 2, 2016 às 11:23

Espero que tenha viajado, já que não tive tempo de lhe responder a tempo e horas! 😉

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Bárbara Setembro 3, 2016 às 10:41

Obrigada!!! Sim fui!!! Sozinha!!! Tailândia e Singapura!!!
Posso dizer que a limitação está mesmo dentro de nós!!! Tenho a perfeita noção que por ser mulher acabei por ter ajudas e facilitismos que não teria se fosse homem! ?
Já fiz várias viagens para outros continentes mas esta foi especial, novo continente e pela primeira vez sozinha! Posso dizer que foi a melhor de todas!!!
Aconselho todas as mulheres a fazerem pelo menos uma vez na vida, vimos de lá totalmente diferentes!!! Só custa marcar a viagem de avião, depois tudo se encaixa!!!

Boas viagens

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Comedores de Paisagem Setembro 5, 2016 às 15:18

Ora aí está: “a limitação está dentro de nós”. Somos bombardeadas com tudo o que nos posso meter medo, e o resultado, muitas vezes, é a paralisia total. Fico muito contente, Barbara, em saber que fez uma viagem fantástica! Vamos à próxima? 😉

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Sofia Gasparinho Agosto 12, 2016 às 23:12

Boa noite. Gostaria muito de vir a viajar sozinha, mas confesso que vejo o facto de ser do sexo feminino uma limitação… todos os gozos durante a viajem que nos permitem poupar dinheiro como as boleias ou couchsurfing tornam-se algo impossível, especialmente para uma jovem de 20 anos. Como aconselha contornar este obstáculo?

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Comedores de Paisagem Setembro 2, 2016 às 11:29

Sofia, lamento que essa ideia permaneça, apesar de eu e muitas outras sermos a prova viva de que os riscos para uma mulher viajar sozinha são MENORES do que para um homem… e ainda lamento mais que deixe que isso a impeça de viajar. Se depois de ler o que escrevi (leu?) continua a pensar da mesma maneira, acho que não posso dizer mais nada. Se quiser por questões concretas, esteja à vontade…

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Raquel Cruz Setembro 15, 2016 às 17:48

Muito bom! 🙂

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Patricia Setembro 21, 2016 às 16:07

Concordo plenamente.
A minha ultima incursão sozinha foi para o Algarve em trabalho e obviamente aproveitei para passear um pouco.
Não posso comparar o Algarve (Portugal) com países Orientais, pois vivemos numa sociedade dita “segura”, mas nunca estou e nunca irei estar dependente de um homem para ir seja onde for…

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Sofia Santos Março 6, 2017 às 20:50

Boa noite a todos!
É assim eu tenho 20 anos, acabei de os fazer. E tenho a ideia de viajar pela Europa do Leste para uma primeira viajem sozinha. Aconselha-me algo?
Sinto que cheguei à altura de ver novas coisas, e de realmente conhecer melhor o nosso lindo Planeta.
A minha ideia é visitar a Bulgária, Hungria, Austria, Grécia e talvez Istambul na Turquia que é uma cidade que me fascina imenso. O meu budget é de 800€(talvez um pouco mais se trabalhar) durante o mês de Julho e Agosto deste ano. O que pensa disto tudo?

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Comedores de Paisagem Maio 9, 2017 às 11:01

Sofia, acho fantástica essa vontade de viajar. Mas o meu conselho seria para ir devagar. Uma regra que pode utilizar é a de que qualquer país vale um mês; isto se o quiser conhecer minimamente. Não é uma regra rígida, claro, mas se quer enfiar seis países em dois meses, vai acabar com fotos mas com poucas memórias… se quiser contactar pessoalmente, pode usar a minha página do Facebook.

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Sara Maio 19, 2017 às 23:49

Amanhã lá irei eu para a minha primeira viagem sozinha ? Dubai!!! O que acha deste destino?

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Comedores de Paisagem Maio 24, 2017 às 10:31

Olá Sara – boa viagem! Sobre o Dubai, não acho nada porque não conheço. 😉 Depois conte!

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Ana Amaral Março 6, 2018 às 22:30

Olá,

Estava eu a pesquisar como seria andar à boleia no Brasil (a minha próxima viagem) quando vi parar a este site, e depois de ter lido todos estes comentários, chego à conclusão e por experiência de outras viagens a solo, que assim que metemos os pés no destino este medo e receio que tinhamos em casa pura e simplesmente desaparece como que por magia. Acredito sinceramente que muito do medo não é nosso mas do inconsciente colectivo português e pode-se tornar numa energia realmente incapacitante em vários aspectos da vida (não só a viajar) se não conseguirmos manter o foco no que a nossa alma nos pede. Já andei à boleia sozinha nos E.U.A algo impensável antes de viajar, se tivermos em conta tudo o que os media nos mostram; é pena é que eles não mostrem também a quantidade de pessoas maravilhosas que existem com quem tive o previlégio de conhecer e andar à boleia. Por isso viajar também é tão importante, para desmistificar ideias e preconceitos, para conhecermos o mundo através dos nossos olhos e não dos outros. A única coisa que talvez recomendo é ter atenção ao consumo de alcool e drogas que nos deixam obviamente menos vigilantes e atentas caso não estejam com pessoas da vossa inteira confiança, de resto é ir e sentir e usar e abusar do nosso poder intuitivo!

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Comedores de Paisagem Julho 9, 2018 às 18:23

Exatamente! 😉

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MADALENA COATIO Dezembro 11, 2018 às 23:13

Olá!
Bem interessante teu artigo!
Sou brasileira e aos 52 anos me aventurei em uma viagem sozinha por 23 dias na Itália sem falar inglês e sem falar italiano. O “Portunhol” me salvou!
Antes, já tinha ido à Europa e a outros países da América do Sul com amigos e foi muito bom, mas, viajar sozinha é “sui generis” mesmo!
Agora em 2019 pretendo conhecer Viena, Budapeste e Praga
Obrigada pelo relato!

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Comedores de Paisagem Novembro 5, 2020 às 12:20

Sou da mesma opinião, Madalena! 😉

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