Cees Nooteboom é um holandês apaixonado por Espanha. No livro O (Des) Caminho para Santiago, mesmo através dos seus resmungos contra a inércia, os “guias importunos”, ou contra o mau humor de alguns que vai encontrando pelo caminho, transparece a sua obsessão pela arte e pela paisagem deste país.
Todos os caminhos vão dar a Santiago
Preparem-se os que esperam encontrar nesta obra um guia para fazer o Caminho de Santiago: o livro é um verdadeiro “descaminho”, já que em mais de trezentas páginas de prosa, dedica apenas meia-dúzia à cidade em si. Mas pela mão deste turista compulsivo acabamos por percorrer grande parte do território – “vasto como um oceano, jaz impassível o cenário de colheitas de catástrofes, migrações de povos e batalhas campais, solo que não conhece nomes nem anos, terra.” -, repescando a alma espanhola e, sobretudo, as suas obras de arte.
Entramos em todas as igrejas, meditamos em frente às pinturas de Velázquez e Zurbarán. ”Paisagens, igrejas, igrejas, paisagens. E por toda a parte aquela palavra: Camino.(…) “cada vez vejo mais vieiras adornar chafarizes e bancos, vou-me aproximando e continuo longe”.
Numa profusão de desvios e encruzilhadas que nos levam dos Pirenéus a Granada, daí a Madrid e mesmo à ilha de La Gomera, nas Canárias, o nosso viajante chega, por fim, à Galiza, e a Santiago de Compostela: (…) “todos os muros são de pedra, mas mesmo assim aqui o centro da cidade parece ser mais empedernido que em qualquer outro lugar, caminha-se sobre grandes blocos de granito, de granito são as casas e as igrejas; quando chove, como ontem, o granito ganha brilho e vida. Andei por entre os guarda-chuvas negros, semelhantes a um povo de morcegos em movimento”. Para trás fica a Espanha revisitada por este erudito, que por várias vezes já foi candidato ao Prémio Nobel da Literatura.