Mamallapuram é uma Índia de rochas, penedos e obras de arte feitas em pedra. Numa insuspeitada aldeia de pescadores na costa do estado do Tamil Nadu, onde não se esperava ver mais do que barcos, redes, e a costumeira ida e vinda de ondas de espuma branca a espraiarem-se na areia branca.
Mamallapuram, uma Índia de pedra
Por alguma razão – talvez ditada pelos deuses, a avaliar pelo número de templos e estátuas -, Mamallapuram passou de aldeia de pescadores especialmente pedregosa a centro internacional de produção e também de ensino de escultura em pedra. Matéria-prima não falta, e arte também não: aqui produz-se e vende-se, desde estátuas gigantescas de deuses e Budas para templos ou jardins, a miniaturas dos mesmos, pequenos pendentes para fios, suportes para incenso e outras ninharias que os turistas podem facilmente levar para casa.
As diferenças são grandes, desde a primeira vez que cá vim; agora, a rua que vai direta até à praia é um correr de restaurantes, agências de viagem e lojas dedicadas a estrangeiros – coisa tornada evidente pela quantidade de oferta de garrafas de água e rolos de papel higiénico -, mas também joias tibetanas, bugigangas indianas, lã do Caxemira, seda de Varanasi e muito mais.
Descobri a Mamallapuram que conheci perto do terminal de autocarros e das guest houses para indianos pobres, junto ao parque arborizado onde ficam os templos. Aí sim, vende-se o que a terra produz: pedra, pedra, pedra. Lojas e oficinas transbordam até à estrada de todo o tipo de esculturas, geralmente com a pedra em bruto, de uma perfeição admirável. Deuses, Budas e animais mitológicos do tamanho de um homem ou até maiores, lamparinas, altares…
Durante a dinastia tamul dos Pallavas, no século VII, Mamallapuram foi uma importante cidade portuária, e uma boa parte dos seus templos foi construída nessa altura. E os rochedos que não foram transformados em templos têm, pelo menos, uma escadinha esculpida para se poder ir até lá cima e ver as vistas. São do tamanho de casas, às vezes de prédios pequenos, e escondem também tanques, leões, cavernas e relevos fabulosos, como a Descida do Ganges, onde personagens míticas parecem revolver-se para sair das paredes.
Cercas fechadas rodeiam o Templo da Praia (Shore Temple) as Cinco Carruagens (Five Rathas), os templos mais importantes, protegidos pela UNESCO – o que lhes dá direito a cobrar uma exorbitância a estrangeiros para entrarem no recinto. As escavações continuam junto à costa, num outro grupo de templos mais adiante, que se alcança facilmente de bicicleta mas onde não vi nenhum estrangeiro.
A arte antiga que levou à criação destas peças únicas está disponível em workshops que têm lugar nas próprias oficinas de onde saem as peças. Indaga-se, combina-se o preço da hora com o mestre, e há muito quem fique por ali semanas inteiras para aprender os rudimentos de um talento inato, tentanto criar deuses com as mãos…