Nepal: viagens na planície, num país de montanhas

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O Nepal é conhecido como um país dos Himalaias, com montanhas que são o sonho de quem pratica alpinismo ou o trekking. Mas o Parque Nacional de Chitwan, na planície que faz fronteira com a Índia, é um sério caso de sucesso no que respeita à conservação das espécies locais e ao turismo ecológico no país.

Parque Nacional de Chitwan, a selva do Nepal

O Royal Chitwan National Park, no Nepal, oferece um contacto directo com a selva nepalesa e a sua fauna. Mesmo que as possibilidades de ver um tigre sejam remotas, Chitwan é um santuário de vida selvagem que se destaca em toda a Ásia, com uma grande variedade de actividades ligadas à natureza e à cultura local.

O Nepal está no imaginário dos ocidentais como um país dos Himalaias, conhecido sobretudo pelas suas montanhas; a única planície do país fica no sul, e não ultrapassa os 40 km de largura. Chama-se Terai, e é uma estreita tira de terra ao longo da fronteira com a Índia. Coberta por uma selva densa cheia de vida selvagem, durante muito tempo a área foi habitada apenas pela etnia tharu, aparentemente resistente à mortífera malária que proliferava na zona. Depois do programa de erradicação da doença, nos anos 50, os casos tornaram-se muito raros e a migração interna aumentou, levando a uma desflorestação tão intensa que obrigou à criação de alguns Parques como o de Chitwan – que cobre agora 932 km2 – à regulamentação estrita do acesso à zona e ao realojamento de 22.000 pessoas.”

Elefantes e rinocerontes: a natureza da planície, num país de montanhas

O elefante bamboleava-se em direcção à clareira, dobrando os ramos finos das árvores que nos arranhavam as pernas e salpicavam com esguichos de orvalho, catapultados à sua passagem. O carreiro fechava-se atrás de nós, estreito e quase indetectável. No lamaçal da clareira o chão tremeu com um pesado tropel, acompanhado de roncos e sopros; ultrapassada a última árvore, apareceu o que procurávamos há mais de meia hora, pendurados numa dura “sela” de madeira sobre o dorso do elefante: rinocerontes. Os maiores continuaram deitados na lama, mirando-nos sem curiosidade, mas uma mãe e o bebé, agitados, ensaiaram umas corridas na nossa direcção. Com o odor humano escondido pelo do paquiderme, os riscos de um ataque directo eram poucos mas, pelo sim pelo não, a uma ordem do cornaca o elefante avançou, partindo galhos e fazendo barulho, numa tentativa de intimidação que resultou em pleno.

É em busca de encontros como este, em plena selva, que a maior parte dos visitantes desce das montanhas e do vale de Katmandu em direcção ao único centro turístico da única planície do Nepal: a aldeia de Sauraha, no Terai, onde fica o Parque Nacional de Chitwan. Passeios de canoa, elefante, jipe e serviços de guia – obrigatórios para entrar na área do Parque – são oferecidos ao longo da comprida rua da aldeia que leva ao rio Rapti. A atracção já vem de longe; num pequeno museu junto à bilheteira, algumas fotografias antigas mostram cenas de caça protagonizadas pelos ingleses. Uma das fotos mais famosas é a de Eduardo VIII posando junto a alguns dos trinta e nove tigres e dezoito rinocerontes que caçou em pouco mais de uma semana…

Os nativos do Terai, os tharus, são apenas cerca de oitocentos mil, num universo sempre crescente de oito milhões de almas que procuram estas terras férteis, onde a altitude não ultrapassa os setenta metros. Quem foi chegando adaptou-se ao clima húmido desta planície fecunda, continuando a construir casas de lama aplicada sobre paredes de cana, decorando-as com animais em relevo; nos arrozais e campos de mostarda, as “torres de vigia”, conhecidas por macham, ainda são usadas para assustar os “invasores” da selva: tigres, elefantes ou rinocerontes, vindos do outro lado do rio Rapti.

A criação do Parque Nacional de Chitwan, nos anos setenta, foi fundamental para a conservação desta área selvagem. O governo nepalês está mesmo a pensar aumentá-lo, de modo a que as últimas manadas de rinocerontes asiáticos, e outros animais potencialmente perigosos para o homem, não tenham que procurar território ou alimento em zonas habitadas. As populações podem usufruir desta área de maneira controlada, colhendo frutos, cortando o capim-gigante e aproveitando para lenha algum tronco que tenha caído, mas ninguém está autorizado a permanecer no perímetro do Parque após o pôr-do-sol.

Durante o dia, locais e visitantes podem deliciar-se com visões e ruídos que só aqui se encontram: é comum que o grunhido de um urso ou de um javali – que nunca chegamos a ver – nos faça saltar para o outro lado do caminho. E também é normal, caso não se passeie de elefante, ter que reunir todas as nossas reminiscências de símios e trepar rapidamente à árvore mais próxima, ao aproximar-se um rinoceronte. Mas o animal mais agressivo e perigoso é o pequeno urso da Índia e os mais fáceis de avistar são os “familiares” dos corsos europeus: o sambar, o chital e muitos outros.

Embora já não existam aqui em estado selvagem, os elefantes têm um infantário no Parque e aparecem um pouco por todo o lado, como animais de trabalho ou meio de transporte na selva. Apesar do desconforto, não são piores que os velhos autocarros decrépitos, com cachos de gente pendurada no tejadilho, que atravessam Chitwan uma ou duas vezes por dia, levando e trazendo habitantes dos dois lados da área protegida. Mas o melhor é mesmo percorrer a selva a pé e surpreendermo-nos com o ar estupefacto dos animais que nos encontram – e com mais de duzentas e cinquenta espécies de pássaros e trinta de mamíferos, ninguém corre o risco de ver só pardais e macacos.

Em Sauraha, de manhã e à tardinha, os búfalos esperam pacientemente a comida no pátio das casas e os pavões exibem a sua plumagem de um azul metálico, esvoaçando de telhado em telhado. Os rinocerontes maquilham-se de lama e os tigres, artistas de bastidores, escondem-se no fundo das florestas. Momentos fantásticos: nunca se sabe se é aurora ou pôr-do-sol, quando uma bola vermelha e luminosa anuncia mais um dia de calor na única planície do país das montanhas.

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