Tóquio Vive Longe da Terra (e o resto do Japão também)

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Tóquio pode estar longe, mas Ricardo Adolfo, autor de Tóquio Vive Longe da Terra, tens os pés bem assentes no chão. Neste livro, aproveita a sua experiência de um ano a trabalhar no Japão para apresentar a vida do ser humano comum na honorável capital japonesa – e nas restantes grandes cidades do país.

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A vida em Tóquio

Ricardo Adolfo relata, ou melhor seria dizer, alude, na obra Tóquio Vive Longe da Terra, a vários aspetos da vida na capital do Japão, que são semelhantes aos da vida em Osaka, Quioto, Nagoya, e outras grandes cidades japonesas, onde a indústria e o trabalho corporativo são bases de rendimento e da estrutura social verdadeiramente essenciais.

A personagem é um estrangeiro a viver em Tóquio – um alien, por oposição aos ilhéus, ou nativos, como lhes chama – casado com uma japonesa e em processo de adaptação a uma realidade completamente diferente. Porque se há povo que tem mantido a sua mundivisão, da religião à ordem social, o amor pela natureza e o respeito pelas tradições, da gastronomia ao teatro, combinando-a com os mais extremos avanços civilizacionais, sem dúvida que é o japonês.

O livro reúne as colunas escritas para a revista Sábado, onde o “alien”, com um sentido de humor subterrâneo mas evidente, nos fala do festival para “olhar as flores” (o hanami, festa de observação das cerejeiras), do trabalho, onde por vezes se dorme descaradamente, das manobras para tirar férias, facto considerado próprio de quem não é fundamental para a empresa, da honra de fumar um cigarro com o chefe e das bebedeiras rituais que é costume apanhar com os colegas e os chefes, num ritual que visa “a convivência desbocada entre colegas” que de outro modo mal comunicam.

Os terramotos, a comida de marmita dos assalariados de fatos cinzentos que se cruzam aos milhares diariamente no metro de Tóquio, a dificuldade em dizer não, as regras para as mais pequenas coisas, das prendas a oferecer no Dia dos Namorados à festa do Natal, nada escapa à lupa da personagem sem nome que navega à vista por numa cultura estranha que demora a entranhar-se. E para ganhar dinheiro, recorre a uma estratégia bem japonesa para combater a falta de comunicação: torna-se “amigo de aluguer” aos fins de semana, “negócio em expansão na ilha” – embora nem todos os japoneses ponham um x no quadradinho do formulário das marcações, para aceitar o serviço de um alien como amigo…

Uma delícia de livro, sobretudo para quem já foi ao Japão e vislumbrou estas idiossincrasias, que nos parecem por vezes tão infantis, e outras vezes…boas ideias.

O Autor

Ricardo Adolfo, nasceu em Luanda em 1974, é copywriter e escritor e vive em Tóquio – à data da publicação do livro na Companhia das Letras (2015) – onde trabalha como freelance na área da publicidade.

Cresceu na Linha de Sintra, em Mem Martins, viveu em Macau nos anos 80, e fez o curso de publicidade, em Lisboa. Depois de trabalhar em algumas agências mudou-se para Amsterdão, depois para Londres, regressando novamente à Holanda, onde começou a escrever, para além das campanhas, das marcas e dos logótipos. Filmou com Wong Kar-Wai e já tem cinco livros publicados: Os Chouriços São Todos para Assar (contos), Os Monstrinhos da Roupa Suja (para crianças), Depois de Morrer Aconteceram-me Muitas Coisas, Mizé – Antes Galdéria do que Normal e Remediada e Maria dos Canos Serrados (romances).


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elisa Abril 5, 2017 às 20:32

Adorei o blog mais que perfeito.

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Comedores de Paisagem Maio 9, 2017 às 10:57

Obrigada, Elisa! Temos estado um pouco parados, mas contamos arrancar em breve. 😉

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leonardo leal Agosto 8, 2017 às 11:34

descobri hoje esse blog. Gostei bastante! Me identifiquei ao extremo! Me alimento muito com paisagens….

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Comedores de Paisagem Setembro 22, 2017 às 17:31

É o melhor sustento para o corpo e para a alma! 🙂

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